FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...
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A primeira casa construída foi o sítio em Poço Fundo, por volta de 1972. Na<br />
verdade, é uma reserva particular da Mata Atlântica, localizada em São José do Vale<br />
do Rio Preto, que fica entre Petrópolis e Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro.<br />
Tom pôde comprar um grande terreno, bastante irregular, quando retornou ao Brasil,<br />
em fins da década de 1960. Tinha conseguido juntar dinheiro suficiente por conta de<br />
seus trabalhos nos Estados Unidos e queria aplicá-lo. Contou com a ajuda da sua mãe,<br />
Nilza Brasileiro de Almeida, e destinou uma parte do terreno para a casa de Helena,<br />
sua irmã, e outra para Elizabeth, sua filha. Quando começaram as obras de<br />
terraplanagem do terreno e as da casa, Tom fez vários rabiscos nos cadernos e muitos<br />
pedidos ao arquiteto Wilfred Cordeiro, seu amigo de infância, pois gostava de<br />
exercitar suas idéias. Ana Jobim comenta em seu filme, A casa do Tom:<br />
O sol da manhã deveria bater nas janelas dos quartos; a parede sul devia<br />
ser cega, por causa dos ventos e das chuvas de verão; os quartos isolados do<br />
chão, para evitar umidade; telhas coloniais grandes em teto sem forro; pé-direito<br />
de sete metros de altura; degraus nas portas de entrada, para evitar cobras. Tom<br />
era obcecado pela arquitetura de morar, cuidava de cada detalhe, não dos<br />
detalhes do interior, mas da luz, da posição do sol, de dormir com a cabeça<br />
voltada para o Norte absoluto, da vista, da paisagem que gostava de contemplar.<br />
(JOBIM, 2007, folheto, p. 12).<br />
Foi nessa época, e em pleno canteiro de obras, que teve inspiração para a<br />
música “Águas de março”, durante uma caminhada/inspeção matinal. Além dessa,<br />
tantos outros sucessos de sua carreira foram inspirados pela natureza do lugar, como<br />
“Dindi” (nome derivado do “Caminho do Dirindi”, que passa pela propriedade de<br />
Tom) e “Chovendo na roseira” (devido aos roseirais à beira da janela do seu quarto).<br />
Esse era o refúgio da família Jobim e eram comuns almoços festivos,<br />
comemorações e cantoria. Tom gostava da mata ao redor, e apelidou de “vento<br />
redondo”, o que circulava pela propriedade. Passeava por lá, piando passarinhos,<br />
observando os urubus (muito importantes na sua obra), conversando com os mateiros<br />
e as pessoas simples da região. Recentemente, foi publicada no DVD A casa de Tom,<br />
uma cena gravada por Ana Jobim e Luiz Eduardo Lerina, na qual Tom conversa com<br />
Narciso Silva, caseiro de Poço Fundo. Nela, Narciso contava, eriçado, seu encontro<br />
com o lobisomem. E Tom balançava a cabeça concordando com tudo.<br />
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