FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...
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proliferação das biografias escritas por jornalistas desde a década de 1980,<br />
impulsionando um retorno que enche as prateleiras das livrarias, deixando claro que<br />
muitos historiadores ainda têm ressalvas com este tipo de trabalho. Um exemplo dessa<br />
relação de amor e ódio dos historiadores para com a biografia é o exemplo do grande<br />
medievalista Jacques Le Goff. Vavy Borges, em seu texto sobre biografia, seleciona<br />
quatro situações: 1) na década de 1970 teve duas chances de mencionar o termo<br />
biografia e não o fez: na coletânea Faire l’histoire, em parceria com Pierre Nora, e na<br />
enciclopédia La nouvelle histoire, em parceria com Roger Chartier e Jacques Revel<br />
2) já em 1989, comentou “[a biografia é] um complemento indispensável da análise<br />
das estruturas sociais e dos comportamentos coletivos” 8 3) dez anos depois, elogia<br />
veementemente: “a biografia é o ápice do trabalho do historiador” 9 , 4) tendo ele<br />
mesmo se dedicado por anos a escrever São Luís, evita a ligação com a biografia<br />
afirmando: “nem meu São Luís, nem meu São Francisco de Assis são, na verdade,<br />
biografias. São Luís é a tentativa de contar, mostrar e explicar tudo que podemos<br />
saber sobre um personagem enquanto indivíduo” 10 .<br />
A biografia encontrou ainda favorecimento no advento da História Oral, que<br />
desde 1948 11 vem oferecendo voz e vez aos homens comuns, que sem terem sido<br />
grandes governantes ou religiosos, participaram dos acontecimentos históricos. Uma<br />
metodologia que está ligada a toda uma renovação historiográfica, pela qual vimos<br />
passando nas últimas décadas, e que procura retomar o papel do sujeito na história<br />
seja o “grande homem” ou não.<br />
O interesse da História pelos arquivos privados/pessoais está ligada a essa<br />
transformação maior. Os arquivos pessoais seriam, portanto, a principal fonte para o<br />
estudo da vida privada de um indivíduo — as “‘vozes’ que nos chegam do passado,<br />
[os] fragmentos de sua existência que ficaram registrados, ou seja, [as] chamadas<br />
fontes documentais” (BORGES, 2005, p. 212). Sejam cartas, cadernos de anotações,<br />
diários ou entrevistas, memórias ou relatos de amigos e parentes, enfim, o importante<br />
é que registrem uma parcela do que o titular do arquivo quis perpetuar.<br />
8<br />
LE GOFF, Jacques. Revue Le Débat, n. 54, 1989 apud BORGES, 2005, p.209.<br />
9<br />
_____. Libération (jornal), 7 out. 1999. apud BORGES, 2005, p.209.<br />
10<br />
_____. Jornal do Brasil, 19 maio 2001. apud BORGES, 2005, p.229.<br />
11<br />
Em 1918, a publicação de William Thomas e Florian Znaniecki, sobre os imigrantes poloneses nos<br />
Estados Unidos, causou efervescêcia no campo da pesquisa biográfica. Entretanto, o marco oficial é<br />
1948, com a invenção do gravador a fita. (ALBERTI, 2005, p. 156)<br />
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