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CADERNO DE RESUMOS - IEL - Unicamp

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possível contribuir para uma caracterização linguística da apelidação e dos apelidos em<br />

seu modo de aparecimento no espaço de enunciação do português do Brasil e, por<br />

meio desta contribuição pontual, é possível trazer elementos para refletir sobre o<br />

funcionamento dos nomes próprios, em particular dos nomes próprios de pessoa.<br />

Weverton Ortiz Fernandes - Universidade do Estado do Mato Grosso<br />

Designações: gestos de sedução e de liberdade da escrava na narrativa do<br />

chorado<br />

Esta análise se filia à Semântica do Acontecimento e tem como material de estudo uma<br />

narrativa que trata sobre a história da Dança do Chorado, material de linguagem<br />

gravado em 2008 na cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade – MT, primeira capital<br />

do Estado. Esta narrativa está compreendida a partir dos estudos em Guimarães (2002)<br />

como acontecimento de linguagem. No procedimento analítico, mobilizamos o<br />

conceito de designação e buscamos compreender as instabilidades nas designações<br />

referente a mulher negra na narrativa do Chorado. Além disso, buscamos compreender<br />

na narrativa como o Chorado rompia com a condição jurídica de submissão das<br />

escravas. A Dança do Chorado se constitui em três períodos. O primeiro funcionou<br />

como uma forma de a escrava dizer em um momento que não era permitido dizer. Já o<br />

segundo período, em que a Dança era organizada pelas conselheiras da festança,<br />

funcionou como uma forma de não deixar apagar a memória das conquistas das<br />

escravas no passado. E o terceiro período o Chorado passou a ser organizado pela<br />

comunidade local, visto que essa dança aparece no conjunto de festividades realizadas<br />

anualmente na cidade de Vila Bela. Historicamente o escravo era designado como<br />

objeto de posse e recebia o nome conforme as características específicas que os seus<br />

proprietários viam neles. No acontecimento enunciativo da narrativa, enunciada na<br />

atualidade, as escravas não eram designadas a partir do lugar de posse e sim pelo lugar<br />

de tratamento de prestígio: senhoras escravas. Do primeiro período da narrativa para o<br />

segundo período, tem-se outra instabilidade na designação. Esse é o momento em que<br />

o Chorado se relaciona ao período social-histórico que coincide com a abolição da<br />

escravidão e a transferência da capital para Cuiabá, e a designação passa de senhoras<br />

escravas para conselheiras da festança. Compreende-se nesse acontecimento que os<br />

fatos sociais estão atrelados à designação. Quanto ao gesto sensual da dança,<br />

compreendido pela narrativa, o Chorado funcionou como uma “estratégia” que<br />

permitiu a escrava dizer em um período que juridicamente ela não tinha voz. A Dança<br />

se caracterizou como um gesto de sedução em que envolvia troca de favores. Nessa<br />

troca de favores, as escravas para atenderem aos prazeres sexuais de seus<br />

proprietários pediam a libertação dos seus entes queridos: marido, filhos, irmãos, que<br />

estavam condenados à tortura e/ou a morte. Nesse acontecimento de linguagem, a<br />

troca de favores proporcionados pelo dizível das escravas no Chorado significou uma<br />

ruptura com o jurídico.

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