um exemplo, mas vamos pensar em todo o enquadramento sócio-cultural no qual a BBC seencontra e no caso português também. Portanto, sim… eu acho que o serviço público deveser um exemplo, deve ser a referência, seja na rádio, seja na televisão, mas no caso da rádioem particular. E <strong>aqui</strong>lo que às vezes me parece é que o serviço público vem um bocadinhoatrás do que fazem as rádios privadas, porque as rádios privadas têm tido ao longo dotempo muito mais audiência que o serviço público, então, se calhar, há uma espécie demimetismo para tentar conquistar mais ouvintes.PO – Também não faz sentido haver um serviço público, se ouvintes não tiver, não é?Portanto, faz sentido que exista, mas é capaz…Prof. P.C. – A rádio faz-se para ser ouvida, não é?PO – Justamente.Prof. P.C. – Se ninguém a ouve, é porque há algum problema.PO – Vamos <strong>aqui</strong> «puxar a brasa à minha sardinha», associando ao início da conversa, àNet, às redes sociais também. Nós, eu e os meus antecessores, fomo-nos queixando de faltade participação dos ouvintes no contacto com o Provedor, porque através das redes sociaisque são estimuladas nos programas, e bem, vão directamente ao produtor, portanto não hánecessidade desta figura intermediária, digamos. Por outro lado, o que se estimulava até<strong>aqui</strong> era muito a participação dos ouvintes através da Internet, o que me parecia quetambém de alguma forma, já era excluir um número significativo de ouvintes. Vou tentarpôr uma linha telefónica de atendimento, ainda que reconheça a razão absoluta do JoséNuno Martins e do Adelino Gomes, que, como dizem, que é o primeiro recurso, a primeiraarma que o ouvinte dispara, não é? Mas porque preciso desse material para a rádio eporque, por outro lado, mesmo um telefonema se for violento pode me ser útil para eu dizer«olhe, se tivesse reflectido melhor…». Esta é uma estratégia que eu penso que pode obviara que a participação nas redes sociais me ‘roubem’ ouvintes para que eu possa intermediar.Será que este é o melhor caminho ou se calhar, a constituição de um blog será melhor?Gostava da sua opinião?Prof. P.C. – Eu penso que nós temos um problema grave de cidadania no nosso país eportanto, a participação cívica é muito reduzida e regra geral, as pessoas participam maisem assuntos bacocos do que em assuntos que, de facto, são importantes. Se nós formos… eestou a ter uma ideia para um estudo… se nós formos olhar para «os gosto» ou para oscomentários que estão nas páginas das estações de rádio no facebook, se calhar, há maiscomentários e há mais «gosto» num post que eu vi hoje de uma estação concorrente, masque um animador de referência no nosso país, sobejamente conhecido, mostrava umaencomenda que tinha recebido e que era uma caixa de dvd’s de uma série de televisão, tipo«finalmente chegaram, que bom, estou contente». E <strong>aqui</strong>lo, ao fim de uns minutos, já tinhanão sei quantos «gosto», não sei quantos comentários. Portanto, isto para mim é um tema140
acoco, quer dizer, isto é estéril, não é? Tudo bem, eu também fico contente por ele terrecebido a sua série favorita, mas isto não acrescenta nada ao meu dia…PO – Exatamente…Prof. P.C. – Se for um tema sério, ser for um tema que gere, de facto, discussão e que nãoseja um tema quente da atualidade, «gosto» cá para mim zero, comentários 1 ou 2 e ficamospor <strong>aqui</strong>. E eu vejo isso, até pela minha própria página no facebook, porque eu tenho comoamigos muitos alunos e os meus alunos gostam muito quando eu ou outro professorcolocamos alguma coisa que não tem nada a ver… que não tem nada a ver, nem com osnossos temas, nem com as nossas matérias, é qualquer coisa como «parti o salto dosapato… vejam lá o que me aconteceu», «gosto, gosto», «professora, estou consigo, vamoscriar um grupo no facebook para os sapatos de má qualidade», etc., etc.PO – Que bom intervalo…Prof. P.C. – Que bom intervalo. Agora se for um tema: o que é que vocês acham derevertermos a politica editorial, «assim, assado, frito e cozido». Caladinhos, ninguém semanifesta.PO - «Não gosto», mas não me interessa…Prof. P.C. – «Não gosto», mas não me interessa, não quero saber… passo à frente, venha opróximo salto que se partiu. E portanto, o mesmo se deve passar com tudo o resto.PO – Portanto…Prof. P.C. – Portanto, para aumentar <strong>aqui</strong> a eficácia só uma coisa que seja imediata, comoo telefone ou uma sms, ou seja, muitas vezes as pessoas estão a ouvir alguma rádio com aqual não concordam e que acham que deveria ser objecto de análise por parte do Provedor.Simplesmente, se não for naquele instante, se não puderem fazê-lo naquele momento,depois, esquecem, passou, ficou de canto «eh pá, afinal não vale a pena», reflectirammelhor «ah… deixa estar, é o que temos» e por aí fora. Se for uma coisa de imediato, «ehpá, isto está mal, isto não devia ser assim»… post, sms, telefonema…PO – Saca-se da arma…Prof. P.C. – Saca-se da arma… exactamente.PO – E depois logo se vê se o tiro foi bem dado ou não.Prof. P.C. – Sim.PO – Bem caminhamos para o fim, ainda que me apetecesse estar <strong>aqui</strong> o resto da tarde aconversar consigo. Eu fiz uma espécie de desafio, não foi desafio, era o que faltava, foi um141
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