Transcrição integral da Entrevista de Mário Figueiredo (PO)Ao Prof. Doutor Rogério Santos (RS)Provedor do Ouvinte – Professor Rogério Santos. Começo pelo princípio: gostava desaber como é começou a sua ligação afectiva à rádio? Por favor olhe para trás, tem algumaligação tradicional de escuta de rádio?Prof. Rogério Santos – Sim… desde meados dos anos 50, desde a década 50 do SéculoXX e porque eu iria ser engenheiro, só que aconteceu ter um desaire na entrada daUniversidade e depois isso serviu para eu, enfim… pensar e mudar de ideias. A rádio ouvianomeadamente… comecei a ouvir nomeadamente o FM. O FM é algo que começou em1950 e qualquer coisa e depois começa a ter grande impacto a partir de 1963/1964. Foinessa altura que eu ouvia com muita assiduidade, muitas horas da minha vida ouvia rádio eo gosto mantém-se desde então.PO – Assiduidade implica ou implicou afecto, tanto assim que, as vozes o chamaram,foram apelativas as vozes da rádio, as que ouvia e as que sabia teremexistido…P.R.S. – Sim… eu depois licenciei-me em História, fiz outras coisas na Academia e surgiua oportunidade de escrever sobre a rádio e tenho muita pena de não ter continuado, porquea minha investigação acabou em 1939, ou seja, há uma série de décadas que faltam estudar,mas outras coisas se meteram… mas, de vez em quando, penso em voltar…PO – Vamos então falar do serviço público de rádio de difusão que temos. Peço o seu olharcritico enquanto académico, enquanto ouvinte, relativamente ao serviço público que temoshoje. Como é que o analisa? No canal generalista, na Antena 2, na Antena 3, em conjuntoou parcialmente, como achar melhor.P.R.S. – O serviço público é, se quisermos, um conceito relativamente recente. Quando arádio começou a emitir há 75 anos, a Rádio Clube que começou a emitir há 75 anos, nãohavia o conceito de serviço público. Serviço público é, se quisermos, uma ideia que começaa ter força na década de 1980, que é uma década de liberalização e de desconcentração e deprivatizações. Aí começa a distinguir-se o serviço público do serviço comercial. Em meuentender, todas as estações de rádio, como de televisão, têm um serviço mínimo de serviçopúblico. Aliás, nos contratos isso aparece mais ou menos implícito. No caso do serviçopúblico, isto é, das empresas ligadas ao Estado, elas existem… esse serviço público existedesde 1935 ou 34, que é quando a emissora começou a emitir e esse conceito foi-sedefinindo paulatinamente, especialmente a partir da década de 80, quando há a privatizaçãoda Rádio Comercial, portanto… depois do período… da institucionalização da rádio…144
PO – Da RDP…P.R.S. – E nessa altura começa então o serviço público a ter maior peso. Curiosamente, adiscussão sobre serviço público na televisão e na rádio é ainda hoje um tema forte naEuropa. Por exemplo, nos EUA ele não é tão forte, mas o serviço público é mais recente ecreio eu que está a ganhar algum peso. O serviço público presta serviços que as estaçõescomerciais não prestam, isto é…PO – E essa é a realidade em Portugal também relativamente à rádio ? O que é que adiferencia?P.R.S. – O que a diferencia… as estações comerciais procuram vender os minutos e ashoras… anunciantes, têm que ter programas com grandes audiências, programasmassificados, orientados para o ouvinte e em muitos dos casos, em Portugal pelo menos,essa rádio é de características musicais, isto é, as músicas que estão na moda, as músicasque mais vendem são aquelas que passam mais na rádio. Há uma espécie de «pescadinha derabo na boca», isto é, quanto mais vendem, mais passam na rádio.PO – O serviço público é diferente hoje…P.R.S. – O serviço público tem, como aliás as estações comerciais, de ter uma quotamínima de música portuguesa que passa a horas razoáveis, enquanto que as rádioscomerciais podem passar de madrugada, onde ninguém ouve. Tem a preocupação deincentivar cantores e bandas recentes, isto no caso do entretenimento musical. Tempreocupação cultural, o caso Antena 2, quando recuperou as peças dirigidas por EduardoStreet, agora na…PO – O teatro radiofónico…P.R.S. – O teatro radiofónico.PO – Ou o Dr. João de Freitas Branco com os seus encontros…P.R.S. – Por exemplo. A nível de informação tem também ou tem de ter a preocupação deser objectiva, exaustiva, explicar pedagogicamente as notícias. Não pode dar um noticiáriode 3 minutos, como algumas estações comerciais o dão, mas isso está no contrato comessas estações. O serviço público tem de ser mais exaustivo e tem de chegar a qualquerparte do país, ou seja, tem que fazer notícia não apenas d<strong>aqui</strong>lo que acontece em Lisboa,mas do que acontece em todo o país. O serviço público, no mínimo, é isso. Mas é um temadiscutido, repito, quer na rádio quer na televisão em toda a Europa, porque a partir de 1980,como eu dizia, tem havido uma perda da importância do serviço público e um crescimentodo serviço comercial, com o serviço comercial a ter também que prestar serviço público,nomeadamente, um número mínimo de noticiários, quotas de música, neste caso,portuguesa.145
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