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L'hipocrisie dans Dom Juan de Molière - Repositório Científico do ...

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Gago, Dora Nunes – Espelhos da pobreza e da exclusão social em Ferreira <strong>de</strong> Castro eMiguelTorga 99 - 114Constatamos ainda a comparação entre os beliches e os jazigos, e ainsistência na cor preta, que também se repete:Toda a terceira classe era negra, negra, viscosa e sufocante. […]Cheirava a tintas e da cozinha exalava-se nauseante fartum <strong>de</strong> comida.Por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> cada porta vislumbravam-se corpos enrodilha<strong>do</strong>s emgrossos cobertores, em teci<strong>do</strong>s castanhos e escuros, que enervavam aindamais o ambiente. (Castro, 89)Nota-se neste excerto, a importância simbólica das cores usadas para<strong>de</strong>screver a “terceira classe”. Primeiramente, a repetição da palavra “negra”. Comefeito, a cor preta, opõe-se a todas as cores, estan<strong>do</strong> associada às trevasprimordiais, à indiferenciação original, sen<strong>do</strong> associada à con<strong>de</strong>nação, à morte,ten<strong>do</strong> um aspecto <strong>de</strong> obscurida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> impureza. Tal como referem Chevalier eGherrbrant no Dicionário <strong>de</strong> Símbolos, visto que absorve a luz e não a <strong>de</strong>volve,evoca “o caos, as trevas terrestres da noite, o mal, a angustia, a tristeza, ainconsciência…” (1994, 543). Para além disso, na sua influência sobre opsiquismo, o preto dá uma impressão <strong>de</strong> opacida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> espessura, <strong>de</strong> peso. Porisso <strong>de</strong> certo mo<strong>do</strong>, “um far<strong>do</strong> pinta<strong>do</strong> <strong>de</strong> preto pesará mais <strong>do</strong> que um far<strong>do</strong>pinta<strong>do</strong> <strong>de</strong> branco”. (1994, 543).Outra cor simbólica presente nesta <strong>de</strong>scrição é o castanho <strong>do</strong>s cobertoreson<strong>de</strong> as pessoas se “enrodilham”. Esta é a cor da gleba (logo, directamenteconotada com a pobreza), da argila, <strong>do</strong> solo terrestre. Evoca também a folhamorta, o Outono, a tristeza, <strong>de</strong>linean<strong>do</strong>-se como “uma <strong>de</strong>gradação, uma espécie<strong>de</strong> casamento <strong>de</strong>sigual entre as cores puras.” (Chevalier/Gheerbrant, 1994, 168).Por isso, é um símbolo <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong> (“húmus” significa “terra”), tanto entre osRomanos como na Igreja Católica, motivo que leva os religiosos a vestirem-se <strong>de</strong>burel.Assim, nos dias iniciais da viagem, a terceira <strong>do</strong> “Darro” era ‘’[…] umcurral flutuante on<strong>de</strong> se comprimia gran<strong>de</strong> rebanho.” (Castro,1980, 91).103 Polissema – Revista <strong>de</strong> Letras <strong>do</strong> ISCAP – Vol. 12 -2012

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