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Uma escola que acolha a diversidade<br />
Historicamente, as escolas e os(as) professores(as) sempre tiveram muita dificuldade para<br />
trabalhar com a diversidade 7 : de cultura, etnia, gênero, vivência social e ritmos de aprendizagem. As<br />
turmas heterogêneas, por exemplo, sempre foram um grande problema para as escolas, e o exercício<br />
de reenturmação, para se ter um grupo homogêneo de alunos(as), foi prática recorrente ao longo da<br />
história da educação escolar brasileira.<br />
Realmente, essa dificuldade pode ser explicada se considerarmos que, para trabalhar com<br />
a diversidade em sala de aula, é preciso admitir que os(as) estudantes são sujeitos de vivências<br />
diferenciadas e que constroem seu referencial de pensamento e de ação a partir delas. Isso exige que<br />
os(as) educadores(as) conheçam as experiências socioculturais de seus(suas) alunos(as) – a realidade,<br />
os territórios, as formas de entender o mundo, os valores – e estabeleçam relações entre o objeto de<br />
conhecimento escolar e essas vivências, tarefa bastante distinta da tradicional responsabilidade de<br />
apenas transmitir conteúdos, desconsiderando o sujeito que aprende.<br />
Como nos coloca Ferreiro (2002), a escola, historicamente encarregada de homogeneizar, de igualar,<br />
nunca soube lidar com a diversidade. O resultado dessa falta de reconhecimento foi o surgimento do<br />
fracasso escolar, tão conhecido de crianças, jovens e adolescentes das camadas populares. É interessante<br />
notar que essa ideia surge com a universalização da educação, pois, como afirma José Gimeno Sacristán:<br />
O mecanismo de normalização que define o êxito (para os que se incluem na norma)<br />
e a exclusão (para os que ficam fora da norma) se viu reforçado no momento em que<br />
a escolarização tornou-se realmente obrigatória para todos. Quando a escolarização<br />
universal não é real, a exclusão dos que não superaram a norma não é necessária, pois<br />
os candidatos à exclusão nem sequer comparecem às escolas. Quando a frequentam,<br />
mas permanecem nelas por pouco tempo e as abandonam, acontece a mesma coisa.<br />
Mas quando a obrigatoriedade torna-se efetiva, aparece a ideia de fracasso escolar<br />
como marca interna, tornando-se uma espécie de atipicidade que se transforma em uma<br />
forma de exclusão que afeta, agora, os que permanecem dentro das escolas. (GIMENO<br />
SACRISTÁN, 2001, p. 79)<br />
Dessa forma, a diversidade de grupos sociais presentes na escola passa a ser identificada como<br />
deficiência escolar, justificada pela condição social e cultural dos sujeitos, com a “culpa” do revés<br />
depositada na pobreza, na desestruturação da família, na falta de estímulo do meio cultural em que<br />
esses(as) alunos(as) vivem. E esse insucesso acaba tendo rosto: crianças e jovens que fracassam na<br />
escola, em sua grande maioria, são pobres, negros(as), índios(as), camponeses(as), moradores(as) de<br />
regiões menos favorecidas.<br />
Módulo III - Escola: espaços e tempos de reprodução e resistências da pobreza 24