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Pantoja

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Nessas experiências, a história única 8 contada sob a ótica dos dominadores vai perdendo espaço<br />

para que as múltiplas histórias da resistência de populações excluídas histórica e socialmente, que<br />

vivem à margem da cultura dominante e da economia, possam ser conhecidas e divulgadas. A língua<br />

considerada padrão, usada pelos grupos sociais mais ricos da sociedade, vai sendo “contaminada” por<br />

diversos e criativos dialetos linguísticos encontrados nos rincões do Brasil, nos campos, nos sertões, nos<br />

espaços de fronteira, nas periferias das grandes cidades. A geografia física vai sendo complementada<br />

pela econômica e social, revelando que há vida social para além do Ocidente e que a relação “Norte-<br />

Sul” não é a de países desenvolvidos e países subdesenvolvidos, mas sim uma relação de exploradores<br />

e explorados.<br />

Aos poucos, crianças e jovens de camadas populares começam a se identificar com essas histórias<br />

e a construir uma identidade que não passa apenas pela “falta” ou pela “deficiência”, mas também pela<br />

resistência, pela luta e pela riqueza cultural. A escola, dessa forma, garante o direito dessas crianças e<br />

desses(as) jovens de conhecerem suas próprias histórias, de se sentirem orgulhosos(as) por fazerem<br />

parte de um coletivo que, mesmo sendo explorado e oprimido, nunca deixou de lutar para conquistar<br />

sua cidadania.<br />

Atentar para a diversidade dos sujeitos significa considerar também que a escola não é um mundo<br />

à parte, mas integra um bairro, uma cidade; e esta, por sua vez, é carregada de muitas e variadas<br />

histórias.<br />

Uma escola que dialogue com o território<br />

Os muros, quase sempre altos e bem reforçados, revelam a (falta de) relação que a escola<br />

estabelece com o bairro. Entrar na escola significa, para muitas crianças e muitos(as) jovens, entrar<br />

em um outro mundo, com tempos, lógicas e regras bastante diferentes do que estão acostumados(as)<br />

a viver, a conviver; com hierarquias, horários rígidos, proibições e castigos; onde o celular, o boné, o<br />

grafite e a música são censurados; e onde dançar, rir, correr, brincar é proibido.<br />

Entretanto, os muros também revelam uma forma de olhar para o território, já que eles servem para<br />

proteger os(as) alunos(as) dos perigos do bairro, da cidade, a qual é vista como perigosa, ameaçadora,<br />

violenta. Um dos grandes méritos da instituição escolar, na visão de muitos pais, educadores e até<br />

dos(as) próprios(as) estudantes, é tirar crianças e jovens da rua, principalmente se essa rua for de<br />

periferia. Dessa forma, as crianças e os(as) jovens das camadas populares começam a ver, na escola,<br />

a imagem de seu bairro ser identificada como um lugar perigoso, frequentado por bandidos, bêbados<br />

e drogados. Mais uma vez, é sob o olhar da falta, da carência e da violência que seus territórios são<br />

demarcados.<br />

Módulo III - Escola: espaços e tempos de reprodução e resistências da pobreza 27

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