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O reconhecimento do direito das comunidades quilombolas 13 trouxe repercussões também no<br />
campo educacional, explicitando o racismo presente nos currículos escolares, nos livros didáticos, e<br />
denunciando a cultura educacional “embranquecedora” presente em muitas escolas brasileiras. Nesse<br />
caminho de combate ao racismo e à discriminação, algumas conquistas foram alcançadas, como a<br />
promulgação da Lei 10.639/03, que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino de História da África<br />
e Cultura Afro-brasileira na Educação Básica, e a inclusão da modalidade de Educação Quilombola,<br />
instituída pela Resolução CNE Nº 4/ 2010 e regulamentada pelo Parecer CNE/CEN nº 16/2012.<br />
Buscando definir e construir a educação quilombola, muitos movimentos negros quilombolas têm<br />
realizado encontros e seminários, com a participação de educadores(as), educandos(as), gestores(as)<br />
de escolas quilombolas e lideranças das comunidades. Nos anos 2007 e 2008, realizaram-se encontros<br />
entre educadores(as) quilombolas de comunidades do estado de Pernambuco, em que se elaborou um<br />
documento, aprovado em março de 2008 e denominado “Carta de princípios da educação escolar de<br />
Pernambuco”.<br />
Infográfico Interativo - Carta de princípios da educação<br />
escolar Quilombola:<br />
Acesse pelo material didático digital<br />
Como podemos ver pela carta, há um compromisso para que a escola quilombola seja uma escola<br />
comunitária, tanto no que se refere à gestão como à prática pedagógica desenvolvida. A exigência de<br />
que os(as) professores(as) dessas escolas sejam quilombolas e comprometidos(as) com suas lutas é<br />
outro aspecto a ser destacado na carta.<br />
Em relação aos materiais didáticos, surge a exigência de que sejam materiais produzidos e<br />
ilustrados pelo povo quilombola, para evitar que estereótipos racistas continuem a povoar os livros<br />
didáticos distribuídos para as escolas. Um exemplo dessa produção didática comprometida com as<br />
comunidades quilombolas é a produção do livro didático elaborado para o povo Kalunga, comunidade<br />
remanescente de quilombo localizada na região da Chapada dos Veadeiros, Goiás. O livro denominado<br />
Uma história do povo Kalunga é composto por um livro de leitura, um caderno de atividades e um<br />
encarte para o(a) professor(a). Como explica uma das co-autoras do livro, Ana Lucia Lopes:<br />
O livro de leitura foi desenvolvido como uma história que estivesse sendo narrada, sobre<br />
a saga de um povo descendente de quilombolas que, ao longo da sua história, foi capaz<br />
de construir uma identidade própria e um patrimônio cultural que deveria ser conhecido<br />
e valorizado. O Caderno de atividades foi organizado de modo a garantir a participação<br />
dos alunos de todas as séries, da 1ª à 4ª séries. Ele tinha a função de recuperar e retomar<br />
os conteúdos do livro de leitura. Cada atividade começava com um trabalho comum,<br />
a ser feito por todos os alunos. […] Não abrimos mão da qualidade e da beleza do<br />
Módulo III - Escola: espaços e tempos de reprodução e resistências da pobreza 46