edição de 19 de setembro de 2016

opinião
TarikVision/iStock
Vamos investir no
que vai para o ar
Clovis Mello
Mesmo em tempos bicudos, continuamos
produzindo propaganda do jeito
que sempre fizemos: com qualidade, pontualidade
e firmeza. Mas temos percebido,
por parte das agências, demandas bem
mais complexas e desafiadoras.
Ao mesmo tempo, por parte dos anunciantes,
uma pressão muito forte por custos
cada vez menores, o que a princípio é contraditório,
pois agora temos muito mais coisas
para fazer numa mesma diária e quase
com a mesma verba: campanhas para web,
skip ads, motivacionais, true view e mais
uma série de peças que não
existiam há dois ou três anos
e hoje são tão ou mais importantes
que o filme da TV.
Antes, eu saía para filmar
um comercial de Havaianas,
fazia o filme de 30” e voltava
para casa. Hoje, o cliente quer
muito mais que isso. Atualmente,
as campanhas digitais
têm cada vez mais relevância,
porém, nem sempre têm
recebido o tratamento que
merecem, pois, quase sempre, ocorrem na
mesma diária, bem no finzinho, quando
ninguém aguenta mais.
Por isso, acho fundamental o mercado
repensar os processos de produção e, mais
importante ainda, colocar em prática novos
modelos de atuação como o que estamos
fazendo na Cine, que é montar uma
equipe exclusiva para pensar o digital com
a mesma relevância e dedicação que os filmes
de TV, orçando o projeto como um todo,
sem ficar muito amarrado em diárias,
desde que não seja uma campanha com celebridades
que tenham uma agenda aper-
“temos
percebido,
por parte
das agências,
demandas
bem mais
complexas e
desafiadoras”
tada. Essa equipe extra pode fazer em outro
dia ou no mesmo dia, porém em um set
paralelo, simultâneo à filmagem principal,
com a minha supervisão e com a criação se
dividindo entre os dois sets.
Isso faz com que a campanha digital tenha
o mesmo tratamento e o mesmo tempo
de dedicação que o offline. Claro que tudo
depende de cada projeto. O fato é que estamos
focados e, mais que isso, preparados e
empenhados em acompanhar esse momento
da nossa produção audiovisual, nessa
transição delicada entre formatos tradicionais
e as novas mídias. É uma mudança cultural
muito grande. As pessoas eram obrigadas
a ver propaganda. Hoje
não são mais. Agora estamos na
era do conteúdo, e só vale aquele
conteúdo que venha com verdade,
originalidade e transparência.
Por isso, temos de nos unir,
criadores, produtores e diretores,
para realizarmos, juntos,
conteúdos extraordinários, sem
se importar com a plataforma.
Pesquisa divulgada recentemente
revela que, dos cerca de 60%
de brasileiros que utilizaram a
internet em 2015, 90% deram preferência
aos celulares para acesso ao mundo digital.
Considerando-se que o wi-fi grátis está
se multiplicando em velocidade espantosa,
desde em praças públicas até nos transportes
coletivos, podemos ter uma noção da
dimensão do desafio. Repensamos modelos
e estamos trabalhando com os produtores
das agências para viabilizar os projetos,
adequando-os às verbas do anunciante,
tentando gastar menos com caminhões de
comida, equipes inchadas e gastando mais
na produção propriamente dita, ou seja,
com aquilo que vai para o ar.
Clovis Mello é sócio e diretor de cena da Cine
clovismello@cine.com.br
62 19 de setembro de 2016 - jornal propmark