entrevista NUNO GAROUPA, BUSINESS DEVELOPMENT MANAGER GIPA O FUTURO PREPARA-SE HOJE! COMO EM TODA A SOCIEDADE, O COVID 19 E AGORA A GUERRA NA UCRÂNIA, TAMBÉM IMPACTARAM NO NEGÓCIO DAS OFICINAS AUTOMÓVEL. EM ENTREVISTA AO JO, NUNO GAROUPA, BUSINESS DEVELOPMENT MANAGER DA GIPA, EXPLICA O QUE MUDOU E COMO ESTÃO A SER AFETADAS AS OFICINAS NESTE PERÍODO PÓS-PANDEMIA
O aumento dos preços, do transporte e o abastecimento de peças, em especial da origem, tem dificultado muito a atividade <strong>das</strong> oficinas, tanto no canal oficial como independente. O agendamento <strong>das</strong> revisões/reparações assim como a entrega dos carros ao cliente final foram as maiores consequências. As oficinas independentes estão a comprar a outros fornecedores e a comprar marcas que nunca tinham comprado, em alguns casos marcas mais baratas ou até recondiciona<strong>das</strong>. Quais os pontos chave que definem a atividade do pós-venda automóvel em Portugal neste período pós-pandemia que agora estamos a viver? Os pontos principais são os aumentos de preços (derivados do aumento da energia / combustíveis / transportes), a falta de matérias primas e diminuição da quilometragem anual. Apesar do aumento do parque circulante, a sua idade média tem vindo a aumentar e agora está nos 12,1 anos. Muitas oficinas independentes estão a trabalhar com o parque mais antigo, pois a falta de carros novos e de usados, fez com que o mercado fosse recuperar aquelas unidades que estavam para<strong>das</strong> há vários anos, daí o aumento na procura de peças mais antigas ou recondiciona<strong>das</strong>. O volume de negócio mensal <strong>das</strong> oficinas no pós-pandemia tem aumentado ou diminuído? As oficinas no geral têm aumentado o seu volume de negócio, o que não significa que estão mais rentáveis. No entanto, as que tiveram a maior quebra com a pandemia e estão a recuperar mais lentamente são as oficinas de chapa & pintura. A diminuição de acidentes derivado aos novos sistemas ADAS, pois 50% do parque circulante já tem pelo menos o nível mais básico e a diminuição do uso do carro, não ajudam este canal que se não se restruturar rapidamente terá grandes problemas de sustentabilidade no futuro. E quais as principais dificuldades que as oficinas estão a enfrentar? As oficinas neste momento estão a sentir mais a falta de abastecimento <strong>das</strong> peças e os sucessivos <strong>das</strong> mesmas. Esta falta de abastecimento de peças varia de operador para operador, pois um concessionário como só tem um fornecedor principal é mais afetado em algumas marcas. Enquanto que uma oficina independente tem em média seis fornecedores e se um não tem os outros poderão ter. O mesmo acontece com as casas de pneus, que embora algumas estejam liga<strong>das</strong> a uma marca, estão a colocar outras marcas para não perder a venda, muitas vezes a comprar marcas que nunca tinham comprado. O tempo médio dos veículos nas oficinas tem aumentado. Quais as razões porque ficam mais tempo nas oficinas? A falta <strong>das</strong> peças ou o atraso no envio <strong>das</strong> mesmas será o motivo principal, no entanto a falta de conhecimento técnico, por falta de formação específica, um diagnóstico mal realizado, a falta de equipamento atualizado, para os novos carros híbridos (HEV/PHEV) que estão a chegar ao mercado independente também já começam a pesar cada vez mais. Para combater algumas destas situações, será necessário ter um bom planeamento da atividade com uma marcação personalizada, hoje e cada vez mais as oficinas independentes terão que prestar um serviço diferenciador, ou seja, dar um serviço de Concessionário a preços mais acessíveis. l MÃO DE OBRA ESPECIALIZADA Existe atualmente uma grande escassez de mão de obra qualificada para as oficinas automóvel. O que deve ser feito para inverter esta situação? Muitos dos que estão a trabalhar têm condições menos boas e os melhores estão muito bem pagos, em alguns casos ganham mais que um engenheiro em início de carreira. O setor aqui tem que mudar o “chip” e dar melhores condições e contratos, pois se uma pessoa não tem boas condições e/ou um contrato aceitável, irá certamente procurar noutra profissão. O mesmo se passa atualmente na restauração e em especial nas zonas <strong>das</strong> praias, onde não existem pessoas disponíveis para trabalhar embora existam pessoas desemprega<strong>das</strong> que querem mudar de atividade. Neste caso a mão de obra, que maioritariamente era brasileira foi para as obras, pois são melhor pagos e têm contratos mais longos, o que dá maior estabilidade. Quais as áreas onde há mais falta de mão de obra especializada? Neste momento as áreas onde existem a maior falta de mão de obra especializada, é a chapa & pintura e a mecânica. A chapa & pintura foi a que sofreu mais com a pandemia e a que recupera mais lentamente, enquanto que as outras famílias (mecânica; manutenção; pneus) este ano já vão passar os níveis de faturação de 2019, a chapa & pintura, poderá ser só a partir de 2024. E qual a origem da mão de obra contratada? Apesar de termos a taxa de desemprego baixa, na prática existem muitas pessoas sem trabalho. O pouco trabalho que aparece é para os mais novos que ainda não emigraram. Em Portugal, a experiência e o conhecimento não são valorizados e muitas chefias têm medo de colocar pessoas váli<strong>das</strong>. Com esta mentalidade a evolução será mais lenta. A maior parte da mão de obra vem dos centros de formação, pois é uma mão de obra mais barata, mas que depois passados um a dois anos, mudam-se para outras oficinas a ganhar um pouco mais. QUADRO I // O custo da pandemia no setor pós-venda em Portugal A PANDEMIA NÃO SÓ ABALOU A POPULAÇÃO PORTUGUESA, MAS O PÓS-VENDA TAMBÉM FOI AFETADO CONSIDERAVELMENTE, ONDE AS PERDAS FORAM SIGNIFICATIVAS NESTES ÚLTIMOS DOIS ANOS O custO da pandemia (2020 – 2021) FONTE: GIPA -153.000 carros -15.600 Milhões -1,5 Milhões -405 Milhões € MATRÍCULAS Algo mais de 150 mil carros vendidos a menos do que o esperado nos últimos dois anos, embora felizmente isso não se traduza em perda do parque circulante QUILOMETRAGEM O parque Português deixou de percorrer 15.600 milhões de quilómetros nestes dois anos, o que é -13% do que o esperado ENTRADAS NA OFICINA Nestes dois anos as oficinas deixaram de ter quase 1,5 milhões de entra<strong>das</strong> (-11% sobre as que teriam sido feitas) MERCADO DO PÓS-VENDA Nestes dois anos, o pósvenda deixou de gerar 405 milhões de euros, -12% do que teria gerado www.jornal<strong>das</strong>oficinas.com Setembro I 22 33