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Untitled - Luso Livros

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eceber a avultada mesada, que se arbitrara. Não visitava ninguém. Fugia paraa sua Augusta, que vinha sempre esperá-lo e abraçá-lo com frenesis de alegria,no alto de Vila Nova.O jornalista concorria duas noites de cada semana, e respirava ali — dizia ele— o ar balsâmico da verdadeira poesia. Falando coisas de literatura comGuilherme, Augusta ouvia-os calada, mas dizia, nos olhos penetrantes, que osentendia. Em coisas do coração, Amaral escolhia assuntos do último livro lidopor Augusta, e ele interpretara nos lugares obscuros, ou fingia ignorar nos quedeviam ser mistério para uma leitora ignorante. Augusta, nessas análises,convidada por Amaral, falava pouco e com timidez; mas ouvi-la momentosera apurar o prazer de ouvi-la sempre. Os gabos animadores do jornalista,recebia-os corando, e os elogios secretos do amante, agradecia-os comlágrimas.Em tardes serenas passeavam a cavalo. Augusta era sempre bela; mas sobre oselim, instigando com a espora o cavalo a graciosos corcovos, era inimitável.Amaral revia-se na “sua obra”, com orgulho de artista, e ternura de amante.Como transparecia radioso o rosto dela pelo amplo véu azul-ferrete! Quegentileza, se o cavalo galopava, e o véu, solto ao vento, deixava ver o seusorriso de confiança e alegria!Rossi-Caccia cantava então no Porto. Amaral queria dar uma impressão novaa Augusta, que nem de teatro lírico ouvira falar na Rua dos Arinénios.— Iremos amanhã ao teatro — disse ele.— Iremos...— Não recebes com prazer esta resolução?— Recebo com prazer todas as tuas vontades, Guilherme.— Vi-te empalidecer agora...— Não é nada...— Dou-te a escolher: queres ir, ou não ir?— Não ir.— E dás-me a razão?

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