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Untitled - Luso Livros

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— Não me envergonhas, Augusta... Atormentas-me com a injustiça. Quelucras em fazer-me sofrer assim?— Que lucro!... Pergunta-me como é doloroso ao coração arrancar estaspalavras que eu me arrependo de proferir, visto que te impacientam... ou temagoam!... Guilherme, não sofras por mim... O que tu quiseres... faz de mimo que quiseres; não te constranja a minha companhia... Queres tu, filho?... Euvou abrir-te a minha alma... Não, não, é cedo ainda... O sacrifício oferecidonão teria mérito nenhum... Eu hei de ser nobre na desgraça, já que o nãoposso ser na sociedade... Não terei vergonha de mim própria; ao menos issoserá uma consolação à mulher que te envergonha na presença de um tio...— Outra vez!...— Não te impacientes, Guilherme... Vem cá... Sê meu amigo, que tomereço.E não sou eu teu amigo, Augusta?! ÉS?... Sou, sê-lo-ei sempre. Pois então nãotenho razão de chorar. Perdoa-me. Guilherme almoçou ao pé de Augusta.Não trocaram duas palavras. A situação dele era penosa, como um remorso.Raras vezes a expiação assim principia simultânea com a culpa. A “culpa”,digo eu, e, porventura, terei dito um grande absurdo. Qual era a culpa deAmaral? Amar uma mulher, que lhe desfazia a cristalização de outra.Moralistas, dai-nos uma figa de azeviche para afugentar o demónio datentação: trá-la-emos devotamente sobre o espírito fraco, o espírito maleável,que se presta a todas as formas, este camaleão íntimo, que varia de cor a cadanovo raio de luz dos últimos olhos, que o fixam. Corrigi os defeitos dosistema nervoso de Guilherme. Transfundi-lhe um sangue mais sereno, menosirritável, nas artérias. Dai-lhe o remanso da paz no regaço de uma mulher, sejaela rainha, ou costureira. Remi-o da infelicidade, que traz consigo ainconstância. Fazei que ele não chegue aos trinta anos, detestando as vintevariedades de mulheres? que conheceu, e detestando-se por ter abusado dasfáceis regalias, que o oiro, a juventude e a sedução lhe serviam em mesa derisos e venenos, como nos festins dos Bórgias. Arrancai-lhe do fundo do seioo espírito inquieto, que principia por travessuras, e acaba em ciúmesrancorosos: insuflai-lhe lá uma alma nova, pacífica, fácil de nutrir-se, parca, esuscetível de adormecer na paz podre de uma amizade burguesa eestupidamente feliz... Moralistas, quando tiverdes descoberto o processo deencadear o espírito, devereis erguer um cadafalso para os infames voluntáriosque arremessarem a mulher ao abismo...

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