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Untitled - Luso Livros

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o rodeavam. Palavras não eram ditas, o infeliz acordou de todo, tangido porquatro homéricos pontapés, que lhe comunicaram uma atividade nova.Casualmente, passava o meirinho geral com ordens para o carcereiro, e opadre Domingos de Queirós, sargento de artilharia. Conheceram JoãoAntunes, e empregaram esforços de tocante eloquência para o arrancarem àsunhas do povo. O triste contava ao padre-sargento e ao meirinho a ímpiaespoliação que sofrera, ele, tão amante da religião!, tão fiel vassalo do seu rei!,tão devoto de Nossa Senhora das Dores dos Congregados, como era públicoe notório!Lágrimas e súplicas inúteis. Aconselharam-no que se acomodasse, para nãoperder o precioso capital da vida. Não tinha, porém, pernas que o levassemdali, onde o infando crime fôra perpetrado. Esperava ver o seu vizinhobarqueiro; talvez ele, por tralhas ou malhas lhe restituísse as suas ações daCompanhia, o penhor das suas choradas cem moedas. E esperou.Às duas horas da tarde voltava a plebe, pedindo cabeças.João Antunes viu de longe o seu vizinho; correu a encontrá-lo; mas o outronão lhe deu grande importância, posto que muitas vezes, a título de vigilanteguarda da sua casa, lhe arrancasse para vinho alguns cobres, espremidosprimeiro entre os dedos avaros do merceeiro.— Lá vai! — exclamou o barqueiro. — Eu não lho disse?— Quem, António? — disse João Antunes.— O chanceler, o jacobino, o herege! Morra o chanceler, que nos queriamandar arrancar na Relação por matarmos o jacobino da Bandeirinha!— Morra! Morra o chanceler! — respondiam compactas centenares devozes roucas, cansadas, exalando a hálito pútrido de aguardente.Vinha, pois, o enfermo chanceler numa cadeirinha para ser supliciado nocadafalso raso, encharcado ainda de sangue das outras reses. O magistrado,que motejara o aviso do Kágado, vinha quase morto naturalmente. Perto dacadeirinha, avultava frei Manuel da Rainha dos Anjos, com o seu hábito, ecom a sua veneranda fisionomia, e corri a sua tocante eloquência falando àsturbas, tão depressa enfurecidas como amansadas, na sua estúpida consciênciados deveres, Dizia o frade que conduzissem o preso à presença doreverendíssimo bispo-governador, para ser mais solenemente sentenciado à

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