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Untitled - Luso Livros

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CAPÍTULO VIITinham decorrido quatro horas de aturada cogitação na vida de Guilherme doAmaral, quando ele, juiz suficiente de si próprio, decidiu que amava a pobrecostureira de suspensórios. Estas quatro horas foram as decorridas desde queele se despediu da Rua dos Arménios, onde o deixámos no anterior capítulo,até que se vestiu para assistir a um jantar de despedida, que lhe era dado pelomarido de D. Cecília.Aí, como é de estilo, depois de esgotadas as saudações à ilustre dona da casa,voltaram-se as atenções, um pouco alcoolizadas, para Amaral. Alguns maridossuspeitos foram os primeiros a recitar as virtudes do provinciano. Damasinsuspeitas aceitaram a opinião dos seus maridos com estrepitosos aplausos.Combinavam-se perfeitamente.Velo, depois, o sentimentalismo da esfalfada etiqueta carpindo a saída de ummancebo, a todos os respeitos, lustre e ornamento da boa sociedade. Era tudopretexto para beber: bailava a lágrima nos olhos rúbidos dos convivas, aomesmo tempo que o férvido champanhe os ressarcia dos líquidos perdidospelas glândulas lacrimais.Um deputado, com a fronte ainda iluminada da auréola oratória, conquistadaem lides parlamentares sobre o fabrico de azeite de purgueira (vide o Diáriodo Governo de 1843), de pé, arfando as paridas ventas ao resfolegar dainspiração, cabelos hirtos, e olhos injetados de sacro fogo, falou assim:— Damas e cavalheiros! Silentium orecundius, É muda a expressão, fala osilêncio!, traduziria eu, com a consciência de ter dito o mais que pode dizer-sena presente conjuntura... — Engasga-se, e crava os olhos num cupido pintadono teto — pode dizer-se na presente conjuntura... se... se... — Uma damaimprudente funga um froixo de riso contagioso... — se a voz da amizade, dahonra, e do dever me não inspirassem no momento solene deste angustiadoadeus. — “Apoiado!”, exclamação do barão da Carvalhosa, e careta de aplausoao vizinho. Sim, senhores: o cavalheiro que a fortuna nos deu, a fortunacaprichosa no-lo rouba! — Sensação; silêncio apenas quebrado pelo silvoagudíssimo de um sorvo de pitada. — Em verdes anos, não o conhecereismais prudente, mais cauto, mais instruído, mais respeitador dos sãoscostumes, mais... mais... -

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