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Untitled - Luso Livros

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CAPÍTULO XXX— Pois não passa connosco a noite?— Não, senhora baronesa... absolva-me vossa excelência desta grosseria...— respondeu o poeta.— Compromisso amoroso? — replicou a baronesa de Amares.,— E o mais certo... — acrescentou o barão, piscando o olho à sua mulher.— Bem sabem — disse o amigo de Guilherme — que eu não tenhonenhum desses compromissos em Lisboa. As minhas visitas aqui são tãoobscuras, na intimidade de uma só família, que nem eu sei ainda se por aí hátentações a compromissos sérios.. .— Há muito quem valha as quarenta e oito poesias anualmente... —retorquiu com graciosa intenção a baronesa.— Isso era dantes... — atalhou o poeta. — A imaginação podia entãoalguma coisa, e o despeito podia muito. Hoje, nem imaginação, nem despeito,minha senhora. Além dos trinta anos, chora-se, como o rei de Macedónia,porque não há mais mundo a conquistar.— Ainda há de ser novo de coração, e terá então melhor coração do que oque teve quando era novo... Gosta do trocadilho?... Ora vá, que estáviolentado... Quer que a gente o espere?— Não, minha senhora, por modo nenhum. Seria vexar-me e oprimir-mecom um obséquio, que eu recebo com menos cerimónia e com maisfamiliaridade.— Olhe que eu espero com a ceia... — retorquiu o barão.— Mas a senhora baronesa não costuma cear.— Não, mas espero, se nos promete vir à meia-noite. Mais não espero,porque temos amanhã o baile do visconde da Laje, e é preciso dormir cá, paradormir lá menos. Até logo.O poeta estava, pouco depois, no Hotel de Itália, batendo no ombro ao seuamigo, que adormecera na cadeira almofadada, com o cachimbo turco nosbeiços, e a garrafa, quase vazia de conhaque diante de si.

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