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Untitled - Luso Livros

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honra, porque o amor dessa palavra lhe custou desenganos, vergonhas,injúrias e a fome. Não eram sempre assim os homens fatais dos teusromances? Nesses, a corrupção não é sempre justificada por lições acerbascom que vieram da sociedade? Não dizem eles que a sua malvadez é umadesforra? O atraiçoado não faz de cada inocente um holocausto à suavingança? E esses tais, pensando que se vingam, não são por fim levados demistura com as suas vítimas à última paragem da infâmia?“E o que aconteceu àquela bela mulher, que, há seis anos, esporeava umginete de raça ao teu lado, enquanto tu, orgulhoso dela, não podias desviar-lhedas airosas formas os olhos embelezados.“De amante em amante, traindo uns e arruinando outros, ostentava-se cínica ecalando o grito da consciência com a celeuma das orgias... Por fim achou-sesó... Só, não digo bem, achou-se rodeada de tudo que simboliza a torpeza noseu mais rasteiro estrado. Desceu onde podia descer. Chegando aí, pediu umaenxerga num hospital. A caridade não lha negou. Não sei como foram os seusúltimos dias... Augusta, do anfiteatro anatómico, passou num cesto para omonturo da santa casa. Acabou o conto, Guilherme do Amaral. Agora...venha uma gargalhada.Guilherme estava lívido. Ergueu-se; deu alguns passos no quarto; levou a mãodireita à testa, e encostou-a à parede como a ampará-la de um esvaimento. Ojornalista, com os olhos de revés, seguia o seu menor movimento, e pareciacontente da sua obra. Acendeu tranquilamente um charuto, e esperou.Amaral veio sentar-se. Trazia lágrimas.— Sem remédio!... — murmurou ele. — Porque não valeste a essa infeliz?— Só tu podias valer-lhe, Amaral. Quem pode mandar retroceder o raioque desce? Era uma mulher a abismar-se: não há braço de homem que asustenha, se foi braço de homem que a despenhou.— E morreu a desgraçada!... — disse Amaral, como interrogando-se,naquela voz, que uma dolorosa abstração nos afigura não ouvida de estranhos.— E o filho?... O meu filho?... — disse ele subitamente ao torpor dameditação.— Morreu-lhe no ventre...— Vítima daquela infame mulher... Três vítimas!...

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