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Untitled - Luso Livros

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CAPÍTULO XXIVLondres, 12 de Fevereiro de 1847.Meu caro...Recebo a tua carta. Preveniste a minha ânsia. Eu desejava uma longa hora deconversação contigo. Era feliz quando a recebi, e o coração, assim, querexpansões: a felicidade dá-nos um ar de soberba, que só amigos toleram.Falemos primeiro de Augusta. Espanta-me a resolução desesperada dessamulher! É excecional! Se não posso amá-la, admiro-a; acho-a deslocada noséculo, e quisera ver bem desenhado num romance esse tipo. Vejo-a de cápelo prisma da poesia: é um quadro histórico da minha vida, o único de quelevo saudades na peregrinação que tenho a cumprir. Não sei que fúnebrepoesia assombra essa heroína obscura! Se a vejo tão radiosa, tão inteligente,tão senhoril, como a vimos no Candal, e a comparo à mulher da Rua dosArménios... sinto esta melancolia íntima, esta coisa indefinível, que faz choraro coração, quando os olhos, esterilizados pelo sopro glacial da experiência, jánão brotam lágrimas.Tenho dó dessa mulher! Antes a queria ver passar de amante em amante,corromper-se, esquecer-se de mim, odiar-me, até: antes isto, que imaginá-laassim, devorando-se de saudades inúteis, inúteis sim, porque não posso amála,não venço o fatalismo, não posso desdar os nós, como Laocoonte, dasserpentes que se me enroscam no coração.Já é tributar-lhe um grande culto, meu amigo, lamentar a mulher que nãoposso amar! Quantas vítimas, em igual condição, que nos não deixam sequeruma sombra na estrada lúcida dos Prazeres? Quantas esquecidas no diaimediato ao da paixão mentirosa?É o mais que posso sentir! Não sei o que possa fazer-lhe... Impressionarammeas tuas pungentes razões; mas queres tu impô-las ao coração, tu, homemda experiência, inexorável síndico dos mais ocultos instantes do espírito!?Porque não aceita ela os meios amplos que lhe dou? Porque não vive rica deoiro, se lhe furtam as riquezas do coração? Porque não há de ela, com o

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