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Untitled - Luso Livros

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O usurário ia tentar um desesperado esforço, aconselhado pela insónia, parasalvar as suas cem moedas emprestadas ao defunto brigadeiro João da Cunha.A casa da Bandeirinha ficava-lhe à mão. Nessa casa devia existir a viúva dodesgraçado jacobino. João Antunes, indeciso, estacou minutos diante doheráldico portão dos Portocarreiros. Venceu, porém, a sordidez, e odesalmado puxou com decisão de credor a campainha. Veio falar-lhe umcriado lacrimoso. O bacalhoeiro, modelando a voz em piedoso diapasão, disseque muito precisava falar à Sra. D. Maria Rira, sobre negócios de muitotranscendência.A infeliz viúva, abandonada de todos, rodeada de pequeninos filhos, maiscorajosa do que é permitido a uma mulher que perdera, horas antes, ummarido extremoso, precisava de alguém que a aconselhasse, que se condoessedo seu infortúnio, que lhe desse para seus filhos um esconderijo. O nome deJoão Antunes, noutra ocasião, ser-lhe-ia importuno; tal hóspede, sempre vilem negócios de dinheiro, precavê-la-ia contra o ardil dalguma nova traficância.Neste momento de aflição extrema, a desolada viúva precisava de alguém,amigo ou inimigo, porque as suas lágrimas eram de condoer as feras, e as ferasdeviam apiedar-se da sua viuvez.Foi, pois, recebido João Antunes numa alcova, onde D. Maria Rira, rodeadade criadas, com duas meninas nos braços, de quarto em quarto de hora,sucumbia desmaiada, e voltava à terrível consciência da vida para invocar oseu marido, a essas horas acutilado, com a face na terra ensanguentada,esperando que uma corda o arrastasse nas ruas do Porto.— Que desgraça, senhor Mora! — exclamou a viúva correndoimpetuosamente ao encontro do impassível bacalhoeiro — Que desgraça! Omeu marido morto... as minhas filhinhas sem pai... o meu querido marido!...— Conforme-se com a vontade de Deus, excelentíssima senhora.— Não posso conformar-me com a vontade de Deus...— Não blasfeme, Senhora Dona Maria!... Nossa Senhora das Dores dosCongregados lhe perdoe.— Pois hei de crer que Deus permitisse a morte vil que o meu maridoteve? Por quem é, Senhor, não diga que é Deus a providência desteacontecimento!... O que eu sofro! O que tenho de sofrer!

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