conhece os homens, que o encaram, a lua que o ilumina, a brisa que o nãorefrigera, as flores que o não incensam com os perfumes da pátria! – “Quediabo diz ele?!”, pergunta um comendador ao membro municipal seu vizinho.Resposta: “Não entendo patavina.” — Vede quão amargo me seria este adeusao canto do globo, onde se acoitam, como pedestais deste belo céu, todas asgraças, todas as maravilhas da criação, todos os êxtases do amor do poeta, daadmiração do artista, das abstrações do filósofo! Eu não devia deixar a pátria,especialmente o Porto, onde vivi os doces e fugitivos instantes da minhajuventude, já agora fanada como a flor esquecida na haste, aos ardores do sol,sem gota de água reanimadora! — “Que tremenda estopada!”, observaçãojudiciosa do jornalista, ansioso por fumar. — Não devia... e, contudo, Deusme é testemunha — “Legítimo clássico!”, reflexão, a meia voz, do deputado auma espécie de barão, que o não entendeu. — Deus me é testemunha que euseguia de rastos o meu destino, e, neste instante, emancipo-me da tutelaignóbil do destino, para declarar com a ufania que me dá a consciência, deproceder como devo, que não tenho? coragem. de vos deixar; serei vosso, sevos mereço; não irei ressequir ao sol de estranhas plagas as flores de amizadecom que fui coroado aqui! A vós, senhoras, que tendes o condão de sopraruma cintila em cinzas apagadas! A vós, senhores, que vos honrais lisonjeandoa amizade... uma ovação sincera, uma saúde fervorosa!— De pé, de pé! — gritaram uns.— Sobre as cadeiras! — urraram outros.— Exceto as damas! — disse Guilherme.— As damas inclusive! — bradou um parvo.O deputado pede a palavra: não o atende ninguém. O jornalista, aproveitandoa desordem, acendeu o charuto. A velha, que chorava, afetada do contágio, fezbravuras com uma perna ferida de gota. As damas, imprudentes nas libações,não curavam já da simetria dos boucles, Aquela cena preliminar de uma orgianão lhes parecia nova, nem excessiva. Pareciam feitas para o festim, como asmulheres da corte de Baltasar. Uma queria pedir a palavra, se a não pisamdolorosamente nesse momento. Outra pedia familiarmente ao criado um copode champanhe...E Guilherme do Amaral, que não perdera um só episódio, nem bebera coisaque lhe anuviasse os olhos penetrantes, dizia, na sua consciência: “Isto faznojo! A boa sociedade é isto! Eis aqui a taverna servida com cristais da
Saxónia! Mais alguns copos de vinho, e estes homens despirão as casacas, eestas mulheres agitarão no ar os tirsos de bacantes! “.Este fragmento era uma reminiscência do sistema que em Lisboa tão maupago lhe dera. Lá, estas convulsões de ódio ao género humano eram ditas emvoz alta. No Porto, o escarmentado rapaz reduzia isso a monólogos, e tinhajuízo. Não se fiava de nenhum amigo, não tivera um só lapso arriscado, umadessas facilidades gratas à vaidade, que molestam a reputação da mulher, jásentenciada, e destroem a reputação do homem, frivolamente jactancioso. Elanão perdeu nada, e ele perdeu tudo! Isto é um absurdo, e, porque o é, creionele, como Santo Agostinho: quod absurduin, credo.O homem que mais de perto tratava Guilherme era o indecente jornalistapoeta,que tive a ousadia de apresentar-vos no baile do barão da Carvalhosa.Como Amaral poderia relacionar-se com tal carácter, não sei, nem ele o sabia.O facto, porém, deve ter uma tal ou qual explicação. O cantor de Cecília, suafecunda inspiração de quarenta e oito poesias por ano, era um falador, quenão impacientava: riqueza e nervo de pensamentos, crítica, sarcasmo, risofulminante, ironias apimentadas, que faziam saltar a língua aos que lhasprovavam, experiência comprovada a preço de todas as suas quimeras,desenvoltura tolerada ao seu talento, ou imposta à força pelo terror da suapena molhada em fel... seriam estas as qualidades que atraíram Amaral?Foram; nem o poeta tinha outras que lhe granjeassem estima, ou desprezo,visto a olho nu, e não estudado vagarosamente.O provinciano principiara por onde devia acabar: antes de sair da sua aldeia,falava da sociedade, como se recolhesse ao lar dos seus avós, pedindo aosdeuses penares o tesouro da paz, que perdera nas tormentosas borrascas dogrande mundo. Todo ele, portanto, era uma falsificação; todos os seuspensamentos e palavras (as obras excetuam-se) um artifício. Não sabia docoração mais do que os romances lhe ensinaram: não entrara no âmago disto,a pôr o dedo sobre a úlcera; não se provara em medições de formidávelsofrimento, essas que são a envenenada iguaria, que abunda na mesa do poeta,quando ele é desse pequeno número, que se atravessa na torrente dos factos,apregoando teorias de uma moral abstrusa e inexequível.Se praticasse com o Mentor de Lisboa, alguns dias mais, saberia muito, nãoouviria com tanto empenho as preleções baratas do jornalista. E ninguém,como este, poderia dar-lhas tão importantes.
- Page 2 and 3:
A presente obra encontra-se sob dom
- Page 4 and 5:
PRÓLOGOAos vinte e um de Março do
- Page 6 and 7:
O Sr. João enviuvara sem descendê
- Page 8 and 9:
Não se deitava, primeiro porque n
- Page 10 and 11:
— Que ainda estou vivo?! Essa é
- Page 12 and 13:
um silêncio tumular, quando o barq
- Page 14 and 15:
— Com vossa excelência não é n
- Page 16 and 17:
— Quem lhe há de falar a ela em
- Page 18 and 19:
suas funções até onde se não en
- Page 20 and 21:
o rodeavam. Palavras não eram dita
- Page 22 and 23: — E não fazem isso pelas sessent
- Page 24 and 25: Companhia, achava-se com duzentos e
- Page 26 and 27: dos judeus e das travessas circunvi
- Page 28 and 29: Impregnado desta lição escandecid
- Page 30 and 31: — Sou absolutamente original: nã
- Page 32 and 33: o fomos. Ao ouvido de uma mulher, d
- Page 34 and 35: — Dizem que é rico — murmurava
- Page 36 and 37: — Diz a verdade: que são belas,
- Page 38 and 39: — Não a encontrei. Sentei-me fat
- Page 40 and 41: — Tu tens ciúmes, Margaridinha..
- Page 42 and 43: de insultos contra as mulheres. Em
- Page 44 and 45: — Aquela trapalhona faz-me subir
- Page 46 and 47: — Não é preciso; eu não sou t
- Page 48 and 49: — Se me escarneceu, fez mal, que
- Page 50 and 51: estéril de tocar na mortalha de um
- Page 52 and 53: que sabem o que dizem e o que fazem
- Page 54 and 55: e sentia não ter asas de querubim
- Page 56 and 57: — Há de deixar... Guilherme saiu
- Page 58 and 59: — Deixem-se agora de choradeiras
- Page 60 and 61: CAPÍTULO VIDois dias depois, Guilh
- Page 62 and 63: — Talvez o seu primo, em quem me
- Page 64 and 65: — Eu não duvido — replicou o f
- Page 66 and 67: — Não, meu senhor, eu lhe conto
- Page 68 and 69: habitado pela cara mais fragrante,
- Page 70 and 71: “Mais honrado!...“, aditamento
- Page 74 and 75: A desilusão não era um cálculo,
- Page 76 and 77: CAPÍTULO VIIIPois se Guilherme do
- Page 78 and 79: — Vem cá — disse Amaral ao jor
- Page 80 and 81: eleza, um terreno inculto com os em
- Page 82 and 83: CAPÍTULO IXDesembaraçado do poeta
- Page 84 and 85: — Eu não entendo o que vossa sen
- Page 86 and 87: aranha... Estás servida... Para bo
- Page 88 and 89: — É outra coisa, tia Ana... Voss
- Page 90 and 91: — Então não gostas dele?— Gos
- Page 92 and 93: — Não é ninguém.— Ninguém?
- Page 94 and 95: — Dava-lhe um dote com que poderi
- Page 96 and 97: mulher, uma espécie de adivinhaç
- Page 98: — Eu! Poderei eu fazer-te infeliz
- Page 101 and 102: límpida, a sujar-se nos becos imun
- Page 103 and 104: conhecimentos em alvenaria; deixo o
- Page 105 and 106: — Pois emenda todas as tolices qu
- Page 107 and 108: CAPÍTULO XII— Tem tido notícias
- Page 109 and 110: elástica, pronta a estender-se na
- Page 111 and 112: — Dou ... Em parte nenhuma posso
- Page 113 and 114: — Gostou da Rossi-Caccia?— Não
- Page 115 and 116: CAPÍTULO XIIIAugusta olvidaria de
- Page 117 and 118: — E ele que culpa tem? Um cão, q
- Page 119 and 120: — É admirável!... Guilherme a e
- Page 121 and 122: — Que tenho eu com a tua perda? S
- Page 123 and 124:
— Então que quer? — disse Amar
- Page 125 and 126:
Vou estabelecer-me, se Deus quiser,
- Page 127 and 128:
Pois devo eu crer que a tua tristez
- Page 129 and 130:
— Pois que é entristecer-se quan
- Page 131 and 132:
operações do espírito. Os teus r
- Page 133 and 134:
CAPÍTULO XVAugusta passeava no jar
- Page 135 and 136:
— Queria.— Está tudo explicado
- Page 137 and 138:
desejoso que a seguisse, sentias um
- Page 139 and 140:
CAPÍTULO XVIUm tio materno de Guil
- Page 141 and 142:
quem o dizia, falando como quem se
- Page 143 and 144:
— Zombas?— É o namoro da tua p
- Page 145 and 146:
CAPÍTULO XVIIAs várzeas do Candal
- Page 147 and 148:
com as suas lágrimas!... Muitos h
- Page 149 and 150:
O almoço correra triste como a com
- Page 151 and 152:
Teotónio viu pelo óculo, e não s
- Page 153 and 154:
— Não entendo os seus infortúni
- Page 155 and 156:
— Se não sou chamado... apresent
- Page 157 and 158:
— Meu tio parece uma criança? Po
- Page 159 and 160:
— Já me não lembra a última...
- Page 161 and 162:
violência do pai. Não a amarás j
- Page 163 and 164:
sua casa; os criados que me servem
- Page 165 and 166:
CAPÍTULO XXQuarenta e oito horas d
- Page 167 and 168:
— Tenho compreendido tudo... —
- Page 169 and 170:
espondia que não, que lhe perdoass
- Page 171 and 172:
— Mas não o foi pelo legítimo d
- Page 173 and 174:
Depois, passou a mão esquerda pela
- Page 175 and 176:
CAPÍTULO XXIDepois que o severo Gr
- Page 177 and 178:
— É muito possível... — confi
- Page 179 and 180:
— Não queira enganar-me, porque
- Page 181 and 182:
— Senhora Ana, é chegada a ocasi
- Page 183 and 184:
carqueja, visto que o cônjuge irra
- Page 185 and 186:
— E porque suspeita vossemecê qu
- Page 187 and 188:
— Ficarei... hoje mesmo.— Não.
- Page 189 and 190:
— Nada, Augusta... Tenho pena de
- Page 191 and 192:
— Não posso... não tenho força
- Page 193 and 194:
— Seja lá quem for, Augusta. —
- Page 195 and 196:
não a acuso; as almas nobres são
- Page 197 and 198:
Não te irrites, Francisco... Eu n
- Page 199 and 200:
CAPÍTULO XXIVLondres, 12 de Fevere
- Page 201 and 202:
esistir à vontade suprema do seu p
- Page 203 and 204:
CAPÍTULO XXVO jornalista recebera
- Page 205 and 206:
paraíso... Toda a minha felicidade
- Page 207 and 208:
— Bem, minha senhora.— Disseram
- Page 209 and 210:
a doida tivera muito pouca coragem
- Page 211 and 212:
CAPÍTULO XXVIAo escurecer de um di
- Page 213 and 214:
envolve um objeto colocado sobre um
- Page 215 and 216:
— Pois queres que se dê a saber
- Page 217 and 218:
Foi buscar um formão, entalou-o no
- Page 219 and 220:
Porque a verdade deve dizer-se: tod
- Page 221 and 222:
O pequeno salta dos braços da Sra.
- Page 223 and 224:
— Eu não sei onde ela está...
- Page 225 and 226:
— Ia dizer-te que vens estragado
- Page 227 and 228:
compulsar o coração. Pintavas o q
- Page 229 and 230:
nosso “toda”. Ora isto acontece
- Page 231 and 232:
ociosos. Ao que ela chamava beijos
- Page 233 and 234:
— Também me lembram:,.. “vais
- Page 235 and 236:
CAPÍTULO XXX— Pois não passa co
- Page 237 and 238:
— É porque não quero que adorme
- Page 239 and 240:
— Da tua prima?!— Sim... Como e
- Page 241 and 242:
das ovelhas tresmalhadas do rebanho
- Page 243 and 244:
Não sabemos de boa fonte os sonhos
- Page 245 and 246:
— Sim...— Mas eu quero vê-la n
- Page 247 and 248:
— E esse homem é barão?!— Com
- Page 249:
sua atividade em valer aos infelize