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Untitled - Luso Livros

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Saxónia! Mais alguns copos de vinho, e estes homens despirão as casacas, eestas mulheres agitarão no ar os tirsos de bacantes! “.Este fragmento era uma reminiscência do sistema que em Lisboa tão maupago lhe dera. Lá, estas convulsões de ódio ao género humano eram ditas emvoz alta. No Porto, o escarmentado rapaz reduzia isso a monólogos, e tinhajuízo. Não se fiava de nenhum amigo, não tivera um só lapso arriscado, umadessas facilidades gratas à vaidade, que molestam a reputação da mulher, jásentenciada, e destroem a reputação do homem, frivolamente jactancioso. Elanão perdeu nada, e ele perdeu tudo! Isto é um absurdo, e, porque o é, creionele, como Santo Agostinho: quod absurduin, credo.O homem que mais de perto tratava Guilherme era o indecente jornalistapoeta,que tive a ousadia de apresentar-vos no baile do barão da Carvalhosa.Como Amaral poderia relacionar-se com tal carácter, não sei, nem ele o sabia.O facto, porém, deve ter uma tal ou qual explicação. O cantor de Cecília, suafecunda inspiração de quarenta e oito poesias por ano, era um falador, quenão impacientava: riqueza e nervo de pensamentos, crítica, sarcasmo, risofulminante, ironias apimentadas, que faziam saltar a língua aos que lhasprovavam, experiência comprovada a preço de todas as suas quimeras,desenvoltura tolerada ao seu talento, ou imposta à força pelo terror da suapena molhada em fel... seriam estas as qualidades que atraíram Amaral?Foram; nem o poeta tinha outras que lhe granjeassem estima, ou desprezo,visto a olho nu, e não estudado vagarosamente.O provinciano principiara por onde devia acabar: antes de sair da sua aldeia,falava da sociedade, como se recolhesse ao lar dos seus avós, pedindo aosdeuses penares o tesouro da paz, que perdera nas tormentosas borrascas dogrande mundo. Todo ele, portanto, era uma falsificação; todos os seuspensamentos e palavras (as obras excetuam-se) um artifício. Não sabia docoração mais do que os romances lhe ensinaram: não entrara no âmago disto,a pôr o dedo sobre a úlcera; não se provara em medições de formidávelsofrimento, essas que são a envenenada iguaria, que abunda na mesa do poeta,quando ele é desse pequeno número, que se atravessa na torrente dos factos,apregoando teorias de uma moral abstrusa e inexequível.Se praticasse com o Mentor de Lisboa, alguns dias mais, saberia muito, nãoouviria com tanto empenho as preleções baratas do jornalista. E ninguém,como este, poderia dar-lhas tão importantes.

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