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Untitled - Luso Livros

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Nessa noite o fabricante não dormiu. Era chegada a hora de uma vingançaoito meses meditada. Na incerteza de sair-se bem da tentativa, Franciscoentendeu que devia adiá-la para a noite seguinte, a fim de confessar-se, com alouvável esperança de entrar puro no Céu, dado o caso infausto de ser morto,matando. (Este entendia o sacramento da penitência à maneira dos que seconfessam para minorar as penas do suicídio. Não são estes, contudo, os quemolestam mais a religião, nem os padres que os absolvem. O que faz mal sãoos romances e as bulas.) No dia seguinte, Francisco não foi à fábrica, e fezsaber ao patrão que se despedia por algum tempo. O patrão, seu amigo eprotetor, procurou-o, e encontrou-o chorando.— Que tens, Francisco? Porque te despedes da minha casa?— Não há remédio, patrão... Cada qual vem a este mundo com a sua sina.— Mas que tens, homem? Eu, já há muito que ando desconfiado de ti!Dantes eras um rapaz alegre, contente sempre, e, há meses a esta parte, vejo-teassim a modo de cismático! Que diabo tens?— São os meus pecados, patrão.— Diz lá, homem; tudo se remedeia, quando há amigos para as ocasiões.— O meu mal não tem remédio... Assim como assim, vou-lhe contar tudo.Eu não lhe disse, há mais de três anos, que queria casar com uma rapariga, queera minha prima?— Disseste, e depois nunca mais falaste nisso.— É porque ela andou a empatar o casamento, até que, haverá oito meses,fugiu de casa com um casaca, e está com ele.— E agora que lhe queres?— Quero dar cabo dele.— És um asno, homem! Que te importa a, ti a rapariga! Faltam elemulheres!— Não há nenhuma como ela; por mais que eu queira não a posso varrerda lembrança; quando estou a comer, e me lembro dela, fica-me o bocadoarrancado na garganta; tenho passado noites em claro; aborrece-me tudo; nãosei como trabalho; nem me presta a féria... Tinha-lhe um amor de raiz, mesmoamor cá de dentro. Assim me Deus salve, que não lhe tenho a ela raiva!

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