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SPECIES

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<strong>SPECIES</strong> n1 | Fabián Ludueña | Do espectro da metafísica à metafísica do espectro<br />

de Orange após a queda de Jan de Witt. 6 O motivo da missiva é revelado pelo autor de imediato, pois<br />

desejava saber a opinião de Spinoza a respeito da existência dos espectros, mas, certamente, não duvida<br />

que, se o filósofo defendesse sua existência, não creria que “alguns deles são almas dos mortos, como<br />

pretendem os defensores da fé romana”. 7<br />

Certamente, Boxel pretende introduzir uma distinção entre o espectro como tal e sua conceptualização<br />

por parte da teologia (particularmente, a cristã), de cuja desconstrução spinozana está muito bem<br />

informado. A primeira reação de Spinoza, que considera a pergunta uma mera “bagatela” é, no entanto,<br />

cortês. Limita-se a assinalar que “dificilmente decorre de uma experiência que existam espectros, antes<br />

se infere que existe algo, que ninguém sabe o que é. E se os filósofos querem chamar de espectros às coisas<br />

que ignoramos, não os contestarei, pois há infinitas coisas ocultas a mim”. 8 Elegantemente, Spinoza<br />

evita se pronunciar sobre a existência dos espectros já que, argumenta, não se pode definir, para começar,<br />

de que tipo de entidade se está falando e, portanto, remete um pedido de esclarecimento a Boxel.<br />

Com efeito, Boxel não se surpreende com a resposta do filósofo. Embora tampouco seja específico<br />

quanto ao tipo de entidade particular de que se está tratando, Boxel sustenta que os espectros são criados<br />

por Deus, condizem com a perfeição e a beleza do Universo, dado que o espaço incomensurável<br />

que está entre nós e os astros não está vazio, e sim cheio de espíritos. Por outro lado, Boxel pensa que “os<br />

superiores e mais remotos são verdadeiros espíritos, enquanto os inferiores, que estão no ar inferior, são<br />

criaturas de uma substância sutilíssima e tenuíssima e, além disso, invisível”. 9 Toda uma tradição milenar<br />

que se sedimentou pouco a pouco no Ocidente ressoa nas palavras de Boxel. Logo teremos a oportunidade<br />

de voltar a isso. Por certo, o correspondente de Spinoza defende uma concepção “filosófica” do<br />

espectro e, portanto, “quanto aos espíritos maus, que atormentam os homens nesta vida e depois dela,<br />

é outra questão, e o mesmo no que diz respeito à magia: considero que os relatos sobre estas questões<br />

são fábulas”. 10<br />

Diante da insistência de Boxel, Spinoza é levado a expor seu argumento mais claro sobre a inexistência<br />

dos espectros em sua carta de outubro de 1674. Os pontos mais relevantes são os seguintes:<br />

a) A beleza não é uma qualidade intrínseca de um objeto, mas sim o resultado de uma percepção<br />

por parte de um sujeito. Do ponto de vista de Deus, o mundo não é, estritamente falando, nem<br />

belo nem feio. Estas propriedades do mundo dependem do temperamento e das circunstâncias que<br />

afetem o sujeito preceptor pois a beleza não é uma categoria objetiva independente de um sujeito<br />

observador.<br />

6<br />

Sobre esse personagem, cf. Koenraad Oege Meinsma. Spinoza en zijn kring: historisch-kritische studiën. ‘s-Gravenhage:<br />

Martinus Nijhoff, 1896. pp. 388-389.<br />

7<br />

Baruch Spinoza. Correspondencia. Tradução ao castelhano de Atilano Domínguez. Madrid: Alianza, 1988. p. 311<br />

(carta 51).<br />

8<br />

Ibid., p. 313 (carta 52).<br />

9<br />

Ibid., p. 314 (carta 53).<br />

10<br />

Ibid., p. 316 (carta 53).

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