You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Cósmica cosmética.<br />
Por uma cosmologia do paramento<br />
Bertrand Prévost<br />
Professor da Université Bordeaux-Montaigne<br />
Tradução de Felipe Vicari de Carli<br />
Revisão de Fernando Scheibe e Vinícius Honesko<br />
Texto originalmente publicado em images re-vues, 10 (2012)<br />
Nota dos editores: agradecemos Amyr Hamud e Hugo Simões pela pesquisa das imagens.<br />
RESUMO Perguntamo-nos aqui acerca da dimensão cósmica do paramento: o que há de mundano numa coifa,<br />
numa maquiagem, num ornamento de guerra? Em que a dobra de um vestido afina-se com o mundo? Não<br />
devemos nos deixar enganar pela tonalidade grega dessa questão. Os gregos antigos formalizaram decerto a<br />
articulação do cósmico e do cosmético, mas essa articulação ultrapassa largamente este quadro, operando na<br />
estética ornamental cristã medieval, na obra de Gottfried Semper ou até mesmo no grande livro de Gombrich<br />
sobre o ornamento. Para ser mais preciso, tentamos nos colocar para além do princípio que ainda preside a conjunção<br />
cósmico-cosmético, a saber: uma analogia da ordem. O desafio é, portanto, colocar as condições de um<br />
devir-mundo do paramento real e contínuo. A questão da adequação entre corpo e paramento, ou melhor, de sua<br />
inadequação, serve notadamente de ferramenta crítica para pensar uma impessoalidade do paramento pela qual<br />
o corpo se descorpora e devém “anorganicamente” com o mundo.<br />
PALAVRAS-CHAVE Amazônia, estética, etologia, Ornamento, etnologia, paramento, cosmética, camuflagem.<br />
RESUMÉ On interroge ici la dimension cosmique de la parure: qu’y a-t-il de mondain dans une coiffe, un maquillage<br />
voire un ornement guerrier? En quoi le pli d’une robe s’accorde-t-il avec le monde? Il ne faut pas se<br />
méprendre sur la tonalité grecque de cette question. Les Grecs Anciens ont certes formalisé l’articulation du<br />
cosmique et du cosmétique, mais cette articulation outrepasse largement ce cadre pour être encore à l’œuvre<br />
dans l’esthétique ornementale chrétienne médiévale, dans l’œuvre de Gottfried Semper ou même jusque dans le<br />
grand livre de Gombrich sur l’ornement. Plus précisément, on tente de se placer au-delà du principe qui préside<br />
toujours à l’ajointement cosmique-cosmétique, à savoir: une analogie d’ordre. Tout l’enjeu est alors de poser les<br />
conditions d’un devenir-monde de la parure réel et continu. La question de l’adéquation entre corps et parure,<br />
ou plutôt de son inadéquation, sert notamment de cheville critique pour penser une impersonnalité de la parure<br />
par laquelle le corps se décorpore et devient “anorganiquement” avec le monde.<br />
MOTS-CLÉ Amazonie, esthétique, éthologie, Ornement, ethnologie, parure, cosmétique, camouflage.