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<strong>SPECIES</strong> n1 | Dois textos (quase) inéditos de Paulo Leminski (1977)<br />
Sabe-se que um dos hábitos que davam mais prestígio aos xamãs era dormir de dia — enquanto todos<br />
trabalhavam, — e ficar acordado de noite, quando os guerreiros e caçadores, tomados pelos terrores<br />
da noite natural, viam luzir (bruxulear, em português, donde “bruxa”) o fogo de sua cabana periférica,<br />
na fronteira entre o mundo humano da aldeia e o caos das trevas exteriores, infestadas de feras, demônios<br />
e outras entidades menos definidas.<br />
O primeiro especialista: o Senhor dos Ambientes Fechados, o Velho, Saturno (gerontocracia).<br />
Jovens são tagarelas: não sabem e/ou não podem deixar de falar. O velho sabe calar, porque sabe<br />
que as coisas fundamentais devem ser descobertas por cada um sozinho.<br />
O primeiro linguista, o xamã, olhando o código, viu o código: o truque.<br />
Daí, a voz empostada ou deformada por algum recurso de nasalização (em hebraico, a palavra<br />
“bruxo” é a mesma que para “fanhoso”). A alteração na emissão dos fonemas acarreta consigo uma virtude<br />
mágica, que as sobrepõe à dita Realidade Objetiva.<br />
Donde vem a Ioga?<br />
O gravíssimo problema das origens da ioga indiana se satisfaz com as seguintes conclusões: a) o único<br />
povo ariano a praticar ioga é o indu, o que prova que a Ioga não é indo-européia, é aborígene. Documentos:<br />
quando os árias entraram na índia (1.400 a.C.), florescia ao Norte a notável civilização de<br />
Mohenjo-Daro (Harappa), em contato com a bacia mesopotâmica (Tigre & Eufrates) e a civilização<br />
suméria.<br />
Ídolos de deuses locais, descobertos pelas escavações Inglesas, se nos deparam em posturas JÁ DE<br />
IOGA, na atitude de Shiva.<br />
Donde, pois, a Ioga?<br />
Dos xamãs, a Ioga<br />
A Ioga, conjunção do corpo com a alma, espiritualização da carcaça do bicho e incorporação do espírito,<br />
uma das mais extremas criações da Essência Humana, deriva suas posturas, “asanas”, gestos e nós,<br />
diretamente, da prática xamanística de imitar os movimentos e atitudes dos animais, portadores da<br />
Verdade Original, Fonte da Pureza das Origens, para obter a dinamização dos recursos do organismo<br />
humano.<br />
Do estoque de truques daqueles monstruosos feiticeiros de eras remotas, desabrocha de repente<br />
uma das mais altas e puras práticas do Espírito da espécie, antes de os gregos inventarem a Lógica.<br />
Através do xamã (depois, do iogi), a natureza humana comunica com a universalidade dos seres e<br />
com a vitalidade dos bichos: já é universalizar bastante esses bípedes sujeitos à cólera, à varíola, ao amor,<br />
à decadência e à Morte, que só os egípcios conseguiram disfarçar tão bem.<br />
Árvore genealógica<br />
Do xamã, saiu o monge, que deu no guru, Pai dos Cínicos. O Padre do Deserto produziu o SUFI, que