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Aprendendo sobre os diálogos cerimoniais Yanomami | José Kelly | <strong>SPECIES</strong> n1 | 61<br />

consequentemente, e isto Alfredo me esclareceu, “minha mulher” em (26) é ninguém menos que Dario,<br />

o filho do Davi, pois seguindo a lógica da terminologia de parestesco, uma vez que Davi é chamado<br />

de sogro, seu filho deve ser chamado de cunhado. Soma-se a isto a troca de gênero onde “minha mulher”<br />

substitui “cunhado”. Vale salientar que nem o Davi nem o Dario foram interlocutores diretos do<br />

Alfredo no wayamou, eles deveriam estar escutando desde suas redes as frases a eles dirigidas. Então, o<br />

sentido de (26) é: “será que Dario vai atender o nosso pedido de ajuda?” Tendo explicado a situação de<br />

penúria (frases 15-21) e a falta de reconhecimento e apoio dos brancos (frases 24 e 25), Alfredo coloca<br />

claramente a expectativa dos Yanomami de Horonami: que Dario interceda ante os brancos e consiga<br />

apoio financieiro para a Horonami. Que o pedido, na expressão “responder a meu pedido”, é um pedido<br />

de mediação entres os brancos fica implícito, dedutível da situação que Alfredo vem descrevendo desde<br />

(15). Na sequência (27)-(29) temos mais uma comparação metafórica. Em (27) “como eu pensei assim”<br />

completa a lógica do pensamento que vem se colocando: eu (Alfredo/Horonami) pensei que vindo a<br />

esta assambléia da Hutukara e expondo nossa situação obeteremos ajuda do Davi e da Hutukara. Em<br />

(28) e (29) se faz uma comparação implícita entre Horonami e Hutukara, esta última sendo descrita<br />

como um xamã, digamos, “completo”, em quem os espiritos fekura já são crescidos, em contraste com a<br />

Horonami, que sendo uma organização incipiente, é como um xamã recém iniciado. A antiguidade da<br />

Hutukara é assim metaforicamente expressa na figura do xamã maduro, que está na condição de iniciar<br />

ou ajudar na formação de um outro xamã mais novo. Cabe destacar que em (28) nem sequer se fala em<br />

xamã explicitamente (o termo costumeiro é shapori ou feurka). A metáfora convencionalizada epenapë<br />

kõõ, que significa literalmente “tomar alucinógenos regularmente” (ver Lizot, 2004: 29), é a que se<br />

utiliza para dizer “um xamã maduro”. Em (29) se enfatiza esta interpretação, pois os espíritos fekura<br />

são introduzidos num xamã na sua iniciação, e eles vão crescendo, assim como pessoas, na medida em<br />

que o xamã vai acumulando experiência e crescendo ele mesmo. Ao dizer “você já toma alucinógenos<br />

regularmente, seus espíritos ja cresceram”, Alfredo remete metaforicamente à maturidade e experiência<br />

da Hutukara.<br />

30. Koimãyãriwëni kë<br />

O espírito do gavião<br />

31. Koimãyariwë kihi Caracas t h eri a rë përipe<br />

Espírito do gavião que mora em Caracas<br />

32. Ei a wãri rë payëkerakiri<br />

Esse que mora longe, rio abaixo<br />

33. A fë wãri hororema<br />

Soprou substâncias mágicas nele<br />

34. Ĩhi rë a pufi mrai tëhë<br />

Estando tonto sob o efeito das substância

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