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Cósmica cosmética | Bertrand Prévost | <strong>SPECIES</strong> n1 | 29<br />

The Sense of Order se abre com Kant 29 , este mesmo Kant que terá criticado a cosmologia racional ao<br />

colocar a unidade natural não mais num mundo objetivo mas no coração da subjetividade. 30<br />

Ora, quando se retira da ordem sua unidade ou sua coerência, o que resta? – Restam regularidades<br />

(fig. 9). É muito logicamente, portanto, que Gombrich voltava seu olhar quase exclusivamente para<br />

as formas simples e regulares, ou seja, para as formas geométricas, a fim de inscrever o ornamental em<br />

uma ordem natural: “a criação de ordens se funda sobre as leis da geometria 31 – jeito este de reencontrar<br />

aquele velho fundo pitagórico que subjazia a todo pensamento da ordem cósmica. Daí o profundo<br />

geometrismo de Gombrich, que não parece querer reconhecer como ornamento senão quadriculados,<br />

treliças, espirais e simetrias, sempre redutíveis a algumas figuras<br />

regulares, o mais das vezes o círculo e o quadrado, e que<br />

não pode senão relegar os marginalia medievais, os grotescos<br />

renascentistas e as volutas rococós “à beira do caos” 32 (fig. 10).<br />

FIGURA 9: Ornamentos chineses, lâmina tirada de<br />

Owen Jones, The Grammar of Ornament, Londres, 1856.<br />

FIGURA 10: Decoração rococó, sex. XVIII,<br />

Palácio Rohan, Estrasburgo.<br />

Mas no fundo parece logo evidente que a própria regularidade pode muito bem prescindir da<br />

figura, tomada em sua extensão, seja ela geométrica, seja ela regular, para não consistir mais do que em<br />

puras regras lógicas. É, portanto, fundamentalmente sob a forma de uma espécie de tabela de categorias<br />

que se poderá pensar a ordem ornamental e suas possibilidades naturais. Os princípios de tal tabela<br />

29<br />

Ibid., p. 1.<br />

30<br />

I. Kant. Critique de la raison pure (1787). Tradução ao francês de A. Tremesaygues e B. Pacaud. Paris: PUF, 1993.<br />

p. 142: “O entendimento não é, portanto, simplesmente um poder de se fazer regras pela comparação dos fenômenos,<br />

ele mesmo é uma legislação para a natureza, ou seja, sem entendimento não haveria em lugar algum natureza, quero<br />

dizer, unidade sintética da diversidade de fenômenos de acordo com regras”.<br />

31<br />

Gombrich, The Sense of Order, p. 117.<br />

32<br />

Para retomar o título do último capítulo, “The Edge of Chaos”.

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