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SPECIES

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Cósmica cosmética | Bertrand Prévost | <strong>SPECIES</strong> n1 | 27<br />

Enfim, o último conjunto concerne ao “ornamento<br />

direcional” (der Richtungschmuck): “essa espécie<br />

de paramento que serve para realçar a direção<br />

e o movimento do corpo (...) que remete principalmente<br />

à oposição entre o adiante e o atrás de um<br />

fenômeno, e joga de preferência com a perspectiva<br />

do perfil”. 19 Assim o capacete de guerra, sobretudo<br />

quando equipado com um penacho, o cabelo solto<br />

deixado a flutuar, as roupas largas movendo-se livremente,<br />

as fitas (quando caem) ou ainda o colchete, o<br />

broche, etc. (fig. 7, 8).<br />

FIGURA 6: Coroa relicário conhecida como "Coroa<br />

de Liège", século XIII, Paris, Museu do Louvre.<br />

“Pingente”, “anular” e “direcional” não remetem apenas<br />

a categorias de objetos, mas mais profundamente a<br />

orientações físicas ou dimensões naturais que Semper apresentará de maneira sistemática nos “Prolegômenos”<br />

a Der Stil, seu opus major. 20 Com efeito, à simetria dos ornamentos pingentes corresponderá<br />

(logo voltaremos a essa palavra “correspondência”) uma dimensão vertical ou um eixo de altura,<br />

mantido pela polaridade física e orgânica da gravitação e do crescimento. Semper tomará aqui como<br />

modelo o mundo vegetal, e é a planta, “simétrica antes de tudo em sua projeção vertical” 21 , que figurará<br />

um princípio de simetria. Da mesma maneira, os ornamentos anulares atualizarão uma dimensão ligada<br />

à largura, que o teórico nomeará “proporcionalidade” e que encontrará sua figura natural no mundo<br />

cristalino: “o princípio da proporcionalidade (das Gesetz der Proportionalität) já é perceptível na forma<br />

radial e fechada dos cristais, os raios individuais aparecendo por vezes articulados”. 22 Enfim, os ornamentos<br />

direcionais determinarão uma dimensão de comprimento ou de profundidade, segundo um<br />

eixo mantido entre inércia e vontade, entre peso, de um lado, e “força vital” ou “força de livre” vontade,<br />

de outro. 23<br />

Por meio dessa tripla determinação ornamental, comenta Jacques Soulilou, o homem inscreve sua atividade<br />

criadora no coração do kosmos, conceito chave da teoria estética de Semper, na medida em que se enlaçam<br />

nele as noções de ordem, de paramento e de mundo. Adornar equivale a reconhecer e a inscrever-se<br />

nessa ordem cósmica, tornando visíveis as forças físicas subjacentes. 24<br />

19<br />

Ibid., p. 247.<br />

20<br />

G. Semper. Der Stil in den technischen und tektonischen Künsten oder praktische Ästhetik: ein Handbuch für Techniker,<br />

Künstler und Kuntsfreunde. Munique, 1860; tradução francesa parcial de J. Soulilou em: Semper, Du style et de<br />

l’archicteture, p. 235-338.<br />

21<br />

Ibid., p. 291.<br />

22<br />

Ibid., p. 294.<br />

23<br />

Ibid., p. 294.<br />

24<br />

J. Soulilou. “Introduction”. Em: Semper, Du style et de l’archicteture, p. 28.

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