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SPECIES

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Cósmica cosmética | Bertrand Prévost | <strong>SPECIES</strong> n1 | 43<br />

protetora em primeiro ou segundo lugar, ao lado das funções de paramento, de pudor e de comunicação.<br />

Encontraríamos muitos outros exemplos de vestimentas animais que respeitam as definições das vestimentas<br />

humanas, e nenhuma definição de vestimenta chegaria a excluir os casos animais, permanecendo<br />

válida para o homem em geral. 75<br />

Proteção, cobertura, abrigo: é a vestimenta humana que confere aqui seu dinamismo projetivo à<br />

vestimenta animal. Pois o paramento ou a vestimenta é sempre pensado como projeção, nos dois sentidos<br />

do termo: como a produção planificada de um artefato, e como a aplicação desse artefato, ainda<br />

que seja um ready-made, sobre a superfície do corpo.<br />

Invocar funções naturais de camuflagem não muda muita coisa, pois se visa menos uma utilidade<br />

funcional do que uma eficácia estética. Supondo que se leva isso em consideração, sabendo-se que a camuflagem<br />

não poderia “explicar” mais do que uma ínfima parte da riqueza expressiva dos paramentos<br />

animais, não será possível deixar de ver aí, no máximo, o vetor de um devir-mundo, no mínimo, uma<br />

forma de o animal compor estética e morfologicamente<br />

com seu meio: devir-imperceptível. De sorte<br />

que é uma mesma abstração despersonalizante que<br />

opera tanto no paramento humano quanto no paramento<br />

animal. Diremos do paramento o que se<br />

diz de um certo tipo de camuflagem: que ele é disruptivo:<br />

que ele dilui a individualidade de um corpo<br />

ao borrar ou ao quebrar seus contornos. 76 Daí os<br />

motivos reticulados de inúmeras serpentes, que as<br />

fazem perder sua forma alongada característica (fig.<br />

25); daí as zebras que, reunidas em manada, perdem<br />

sua individualidade formal (fig. 26). Para não dizer<br />

nada, evidentemente, das inúmeras colorações e formas<br />

improváveis que transformam o lagarto em casca<br />

de árvore, o peixe em rocha, o inseto em talinho<br />

de planta, o louva-a-deus em folhagem...<br />

Ao pé da letra, não há camuflagem, ainda menos<br />

mimetismo 77 , mas sim uma soberana expressão.<br />

Humano ou animal, o paramento implica o mundo:<br />

ele o dobra em um motivo, uma cor, um desenho<br />

que atravessa as estratificações naturais (matéria,<br />

FIGURA 25: Camuflagem disruptiva: víbora do Gabão.<br />

75<br />

Bartholeyns, “L’homme au risque du vêtement”, p. 125-126.<br />

76<br />

Ver R. Callois. Le mimétisme animal. Paris: Hachette, 1963. p. 25.<br />

77<br />

Lembremos que a camuflagem designa antes as relações do indivíduo com o meio, enquanto que o mimetismo diz<br />

respeito às relações de imitação intraespecífica.

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