03.11.2015 Views

SPECIES

species1

species1

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

14 |<br />

<strong>SPECIES</strong> n1 | Fabián Ludueña | Do espectro da metafísica à metafísica do espectro<br />

be much more fitted tan they are for civil Obedience)”. 21 Como se pode ver, o problema do espectro não<br />

é só um problema metafísico, mas também, como não poderia deixar de ser, essencialmente político. A<br />

eliminação do espectro do espaço público e sua desacreditação metafísica parecem ter sido algumas das<br />

condições de possibilidade da política dos sonhos da Modernidade e, portanto, da constituição do Estado<br />

moderno. Do contrário, por que Hobbes se veria levado a tratar amplamente dos espectros em um<br />

livro dedicado ao poder e ao Estado como é o Leviathan? O mistério político do espectro na Modernidade<br />

é uma das temáticas que deveremos abordar se queremos entender sua verdadeira pregnância.<br />

Certamente, Hobbes compreende que os antigos e os medievais definiam os espectros como “tênues<br />

corpos aéreos (thin aërall bodies)” e, deste ponto de vista, eram “substâncias reais e externas (real<br />

and externall Substances)”. 22 Seja dito de passagem, é precisamente esta tendência metafísica que levou,<br />

segundo Hobbes, à definição do Deus cristão como incorpóreo, isto é, Infinito, Onipotente e<br />

Eterno, ou seja, acima da compreensão humana, posição que Hobbes rechaça com veemência. Esta<br />

alegação assume uma nova importância sobretudo se levamos em consideração que, segundo muitas<br />

interpretações, é bem provável que Hobbes tenha pensado na existência de um Deus corporal (ainda<br />

que invisível, infinito e eterno), como consta no apêndice incluído na tradução latina do Leviathan. Ao<br />

mesmo tempo, a agência, a força causante que estas entidades poderiam ter, não se justifica, aos olhos<br />

de Hobbes, a não ser pela força do costume.<br />

Precisamente, da admissão (para Hobbes, metafisicamente equívoca) da existência de espectros se<br />

deriva, como havíamos assinalado, a religião antiga: “a ideia dos espíritos, ignorância das causas segundas,<br />

devoção por aquilo que os homens temem (Devotion towards what men fear) e admissão de coisas<br />

causais como prognóstico, é a semente natural da religião (naturall seed of Religion)”. 23 Evidentemente,<br />

torna a dizê-lo Hobbes, o propósito de tal impostura espectrológica foi, contudo, nobre (mesmo estando<br />

errada) pois buscava tornar os homens “mais aptos para a obediência, as leis, a paz, a caridade<br />

e a sociedade civil (more apt to Obedience, Lawes, Peace, Charity, and civill Society)”. 24 Por isso, sem<br />

quaisquer ambiguidades, Hobbes conclui que “a religião da primeira espécie [a pagã] é uma parte da<br />

política humana (human Politiques) e ensina parte do dever (duty) que os reis terrenos (Earthly Kings)<br />

requerem de seus súditos (Subjects)”. 25<br />

Do ponto de vista metafísico, ao rechaçar a substancialidade do espectro, Hobbes o situa, tal qual<br />

Spinoza, como uma forma a mais da imaginação. Uma imagem, para Hobbes, é “a aparência de uma coisa<br />

visível (Resemblance of some thing visible)”. 26 Agora, um fantasma não tem existência, não se encontra<br />

dentro do mundo ôntico, portanto, “disso fica manifesto que não existe nem pode existir uma imagem<br />

21<br />

Ibid., p. 19.<br />

22<br />

Ibid., p. 77.<br />

23<br />

Ibid., p. 79.<br />

24<br />

Ibid., p. 79.<br />

25<br />

Ibid., p. 79.<br />

26<br />

Ibid., p. 447.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!