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Capítulo III<br />
desse ponto de vista, um determinado índio privilegiado<br />
e excecional pode — até mesmo no estado<br />
silvícola — alçar-se muito sobre seus congêneres.<br />
Frei Betto, pelo contrário, considera situações genéricas.<br />
Isto é, um médico corrente como ele costuma<br />
ser, e um selvagem também corrente e como costuma<br />
ser.<br />
É claro que, no texto acima, ele nega a superioridade<br />
cultural do médico sobre o selvagem. E desinibidamente<br />
afirma que os conhecimentos da medicina<br />
— considerados enquanto tais — valem tanto quanto<br />
«fazer tinta de genipapo, reconhecer o grito da capivara,<br />
preparar carne sem sal» e coisas quejandas. O<br />
que, com ou sem apoio no que ele designa como «a<br />
obra monumental de Lévi-Strauss», aberra absolutamente<br />
do mais elementar bom senso. Essa posição, o<br />
frade subversivo a toma em nome de um princípio<br />
também absurdo, isto é, que as «culturas paralelas»<br />
não são suscetíveis de serem comparadas umas com<br />
as outras. E que soa falso a afirmação de que uns<br />
homens são mais cultos do que outros. Em última<br />
análise, Frei Betto nega a possibilidade de qualquer<br />
hierarquia social. A natureza só comporta o horizontalismo.<br />
Precisamente como o comunismo recusa<br />
qualquer verticalismo na sociedade.<br />
Bem entendido, em nome desse princípio é fácil<br />
atacar a benemérita ação civilizadora inerente à missiologia<br />
católica tradicional.<br />
Mas, para esta última, quanta glória, em receber<br />
ataque tal...<br />
32. «o p re ç o de cada p a s s o<br />
de n o s s o p ro g re s s o i<br />
a ru fn a de m a is um a trib o »<br />
Do livro Cartas da Prisão, de Frei Betto:<br />
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