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Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...

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C ÉLIA TOLENTINO<br />

ser realizada sob as bênçãos e com participação da Igreja. Quando o comunismo<br />

vos convidar para grupos e ligas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> vossos interesses, já <strong>de</strong>veis estar<br />

organizados em núcleos <strong>de</strong>mocráticos e construtivos que <strong>de</strong>sejamos ajudar<br />

a criar” (ANAIS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, <strong>de</strong>z. 1960, p. 437). Os<br />

bispos fazem, ainda, um apelo aos padres, para que aju<strong>de</strong>m a esclarecer sobre a<br />

Revisão Agrária e a “<strong>de</strong>mover preconceitos”. Por último, convocam o Presi<strong>de</strong>nte<br />

da República a “seguir o exemplo <strong>de</strong> São Paulo”.<br />

O apoio dos bispos repercutiria na Assembleia Legislativa <strong>de</strong> modo<br />

favorável ao projeto <strong>de</strong> Carvalho Pinto. No entanto, a oposição à direita não <strong>de</strong>ixaria<br />

<strong>de</strong> observar a advertência da Igreja no documento encaminhado à Assembleia<br />

Legislativa, citando a afi rmação peremptória dos bispos <strong>de</strong> que um não à proposta<br />

equilibrada do governo <strong>de</strong> São Paulo seria um sim à proposta dos revolucionários.<br />

Nesse sentido, o Deputado do PSP, Cyro Albuquerque, afi rmaria: “fácil é <strong>de</strong>duzir<br />

que os Srs. Arcebispos e Bispos, li<strong>de</strong>rados por Dom Hél<strong>de</strong>r Câmara, Arcebispo<br />

Auxiliar do Rio <strong>de</strong> Janeiro, estão mais preocupados em evitar uma reforma<br />

agrária que po<strong>de</strong>ria vir por meios violentos, do que propriamente com aquela,<br />

que viria ao encontro da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo” (ANAIS DA ASSEMBLEIA<br />

LEGISLATIVA, <strong>de</strong>z. 1960, p. 437). Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter razão o <strong>de</strong>putado peessepista<br />

quando, assim pronunciando, legitima a importância da atuação do PCB no campo,<br />

a força das mobilizações camponesas nos fi nais dos anos 50 com a realização do<br />

I Congresso da ULTAB, mais a referência da revolução cubana, como elementos<br />

<strong>de</strong> conjuntura consi<strong>de</strong>rados na preocupação do Governo <strong>de</strong> São Paulo e da Igreja<br />

Católica. Mas, o apoio dos bispos à medida paulista também se baseava em outros<br />

pressupostos da doutrina social da Igreja para o mundo mo<strong>de</strong>rno, isto é, num<br />

possível “capitalismo social”, como sugere Werneck Viana (1978) ao referir-se à<br />

concepção política do PDC. Sob essa perspectiva, a proposta do executivo paulista<br />

garantiria, através da proprieda<strong>de</strong> familiar, o elemento básico para sustentáculo da<br />

“paz social”: a proprieda<strong>de</strong> e a família. Mais do que uma versão exclusivamente<br />

conservadora para garantir sua sobrevivência, a Igreja já havia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1956, a<strong>de</strong>rido<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimentismo e juntamente com o governo Kubitschek, formulado<br />

políticas rurais, principalmente, para o nor<strong>de</strong>ste. Segundo escreve Vanilda Paiva<br />

(1985) em Igreja e questão agrária, para o clero a pequena proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria servir<br />

para a reprodução física e moral do trabalhador, para conter o êxodo rural e para<br />

ajudar a formar a classe média rural no campo. Os mesmos objetivos estão na<br />

mira do bloco dirigente paulista, para além do anti comunismo partilhado pelo<br />

governador e secretário da agricultura, José Bonifácio Coutinho Nogueira, que<br />

era membro da UDN. Na contracapa do BOLETIM DA REVISÃO AGRÁRIA,

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