Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
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C ÉLIA TOLENTINO<br />
realmente po<strong>de</strong>m, presentemente, aspirar, com resultados positivos para o país,<br />
aquela posição. (ANAIS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, out. 1960, p. 1114).<br />
Numa perspectiva conservadora, a leitura do <strong>de</strong>putado peessepista<br />
Cyro Albuquerque dava relevo ao assentamento <strong>de</strong> trabalhadores como possível<br />
mecanismo <strong>de</strong> encarecimento da mão <strong>de</strong> obra rural. Segundo sua retórica, tais<br />
assentamentos não condiziam com a proposta <strong>de</strong> lavoura mo<strong>de</strong>rnizada uma vez<br />
que os assentados não po<strong>de</strong>riam arcar com os custos da inovação tecnológica.<br />
A<strong>de</strong>mais, a agricultura estaria substituindo o homem pela máquina que, atraído<br />
pelo trabalho na indústria, <strong>de</strong>ixava a zona rural com carência <strong>de</strong> braços. Portanto,<br />
não haveria razões para propor a fi xação do homem no campo, a redistribuição<br />
da terra, pois esta não seria a real tendência da agricultura.<br />
Uma terceira leitura era aquela feita pela oposição à esquerda, tal como<br />
se po<strong>de</strong> observar nos pronunciamentos <strong>de</strong> parlamentares do PTB e do PSB. Com<br />
uma análise ampla sobre o lugar da agricultura na economia mo<strong>de</strong>rna, afi nada com<br />
a leitura do PCB em relação à questão agrária brasileira, para os comunistas no<br />
PTB a proposta do Executivo paulista era avançada do ponto <strong>de</strong> vista histórico,<br />
mas, concretamente, negava terra a milhões <strong>de</strong> camponeses com uma medida<br />
mistifi cadora da “verda<strong>de</strong>ira” reforma agrária. Neste sentido, o <strong>de</strong>putado Jéthero<br />
<strong>de</strong> Faria Cardoso propunha que o Estado entregasse as terras aos camponeses,<br />
sem maiores formalida<strong>de</strong>s. Segundo entendia, a economia torna-se <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
da cafeicultura, que não constituía produto <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong>, graças ao<br />
latifundiário que, com isso, reduzia também a industrialização e as potencialida<strong>de</strong>s<br />
do mercado interno. Portanto, era necessária a expropriação das gran<strong>de</strong>s<br />
proprieda<strong>de</strong>s rurais para redistribuí-las aos trabalhadores pobres do campo, <strong>de</strong><br />
modo a incrementar a produção para o mercado interno e, consequentemente,<br />
o consumo <strong>de</strong>ste mesmo mercado. Em suma, a oposição à esquerda reclamava<br />
um caminho distributivo que envolvesse gran<strong>de</strong> parte dos trabalhadores rurais<br />
para, no fi m, para alcançar os mesmos objetivos econômicos, com a participação<br />
política da maioria dos trabalhadores. Evi<strong>de</strong>ntemente, mais do que o alcance do<br />
projeto, os <strong>de</strong>putados comunistas discordavam do processo e da consequente<br />
exclusão <strong>de</strong> maioria das famílias <strong>de</strong> trabalhadores rurais que não se encaixariam<br />
no perfi l almejado pelos i<strong>de</strong>alizadores da revisão agrária. Mas, em um aspecto a<br />
proposta do Executivo e <strong>de</strong>stes parlamentares confl uía: era preciso contribuir<br />
para o incremento do capitalismo no campo. No entanto, se este era o ponto<br />
para o qual convergiam as duas posições políticas divergentes, era também o<br />
aspecto que concentrava os maiores antagonismos. Afi nal, para os proponentes