Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O FARMER CONTRA O JECA<br />
propaganda jornalística <strong>de</strong>dicada ao público letrado, os termos eram mais<br />
explícitos: “Agricultor: Carvalho Pinto nos Campos Elíseos e Jânio no Catete: é<br />
o fi m do confi sco cambial.” (FOLHA DE SÃO PAULO, 1 out. 1958, p. 1). Sem<br />
dúvida, este discurso se dirigia aos cafeicultores paulistas, pois o “confi sco”, isto<br />
é, a incidência <strong>de</strong> pesados impostos sobre a exportação da rubiácea, gerava uma<br />
forte reação do setor contra o governo fe<strong>de</strong>ral no período.<br />
Sendo parte da questão <strong>de</strong>senvolvimentista, como vimos, o tema do<br />
nacionalismo assumia, no ano <strong>de</strong> 1958, gran<strong>de</strong> importância. Os grupos a<strong>de</strong>maristas,<br />
principalmente os comunistas engajados em sua campanha, acusavam Carvalho<br />
Pinto <strong>de</strong> antinacionalista e entreguista. Em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Carvalho Pinto, entraria<br />
em cena um manifesto assinado por diversas li<strong>de</strong>ranças políticas e <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s<br />
classistas que, reunidas no auto-intitulado “Grupo Nacionalista <strong>de</strong> São Paulo”,<br />
atestava os sinceros “interesses nacionais” do candidato:<br />
[...] nenhum nacionalista autêntico po<strong>de</strong>rá negar sua colaboração, a mais<br />
<strong>de</strong>cisiva, à candidatura <strong>de</strong> Carvalho Pinto, no interesse da causa nacionalista<br />
que se constitui cada vez mais instrumento i<strong>de</strong>ológico indispensável para<br />
vencermos nosso estado atual <strong>de</strong> sub<strong>de</strong>senvolvimento e assegurarmos a<br />
gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> nosso <strong>de</strong>stino.” (FOLHA DE SÃO PAULO, 6 set. 1958, p. 11) 7 .<br />
Mas havia séria <strong>de</strong>sconfi ança da esquerda <strong>de</strong> que o ex Secretário da<br />
Fazenda fosse a<strong>de</strong>pto das teses liberais, do livre mercado e da mo<strong>de</strong>rnização,<br />
portanto, um “entreguista”. Caio Prado Júnior, já <strong>de</strong>svinculado do PCB e, como<br />
observamos, crítico da a<strong>de</strong>são dos comunistas à candidatura Adhemar, escreveria<br />
na Revista Brasiliense <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1958 que Carvalho Pinto seria um “anti<br />
nacionalista em favor da mo<strong>de</strong>rnização e da abertura aos capitais estrangeiros”<br />
(REVISTA BRASILIENSE, 1958, p. 58). Em termos <strong>de</strong> nacionalismo, o máximo<br />
que o candidato <strong>de</strong> Jânio apontava em seus discursos era uma preocupação com<br />
o que chamava <strong>de</strong> “in<strong>de</strong>pendência econômica da nação”. Mas, o ponto forte da<br />
sua retórica era a preocupação com as questões regionais e locais, como a <strong>de</strong>fesa<br />
do municipalismo, iniciada na gestão anterior, sempre reforçada pelo moralismo<br />
administrativo. Os temas <strong>de</strong> alcance nacional só eram tratados na medida em que<br />
apareciam imbricados nos discursos <strong>de</strong> Jânio enquanto candidato à presidência,<br />
como mostra essa propaganda veiculada na gran<strong>de</strong> imprensa paulista:<br />
Brasileiro! Não <strong>de</strong>sperdice seu voto! Esta é nossa oportunida<strong>de</strong>, trabalhadores.<br />
Todos com Carvalho Pinto. Carvalho Pinto nos Campos Elíseos é Jânio no<br />
7 Assinam o manifesto do “Grupo Nacionalista <strong>de</strong> São Paulo”: Rubens Paiva, José Gregori, Jorge Cunha<br />
Lima, Almino Afonso, entre outros. FOLHA DE SÃO PAULO, 6 set. 1958, p. 4.<br />
29