Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
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O FARMER CONTRA O JECA<br />
A VOLTA DE ADHEMAR E O “GOLPE DE MISERICÓRDIA”<br />
Po<strong>de</strong>mos dizer que o governo Carvalho Pinto inicia-se vitorioso com<br />
o apadrinhamento político <strong>de</strong> Jânio Quadros e termina <strong>de</strong>rrotado por obra e<br />
graça do mesmo Jânio. Na eleição <strong>de</strong> 1958, Carvalho Pinto contou com vários<br />
elementos conjunturais favoráveis à sua ascensão ao cargo <strong>de</strong> chefe do po<strong>de</strong>r<br />
executivo <strong>de</strong> um estado que po<strong>de</strong>ria ren<strong>de</strong>r-lhe a candidatura à presidência para<br />
a sucessão <strong>de</strong> 1965. Em primeiro lugar, os efeitos negativos da administração<br />
JK se colocavam no cenário político e o candidato paulista tinha a seu favor a<br />
<strong>de</strong>svinculação, inclusive partidária, com o governo fe<strong>de</strong>ral e ainda a aliança com<br />
Jânio, já no páreo sucessivo.<br />
Ainda em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 60, quando o projeto <strong>de</strong> Revisão Agrária<br />
seria aprovado pela Assembleia Legislativa, Carvalho Pinto colhia as vantagens<br />
da eleição vitoriosa <strong>de</strong> outubro daquele mesmo ano. Evi<strong>de</strong>nte que, como já<br />
apontamos, eram vários os fatores que conduziam a Assembleia Legislativa a<br />
aprovar o projeto <strong>de</strong> lei. Porém, consi<strong>de</strong>ramos a força projetada pela eleição <strong>de</strong><br />
Jânio Quadros como mais um ponto a seu favor. Em março <strong>de</strong> 61, Carvalho Pinto<br />
se pronunciaria: “De minha parte <strong>de</strong>claro-me satisfeito por haver concorrido<br />
para que o mo<strong>de</strong>sto movimento iniciado em São Paulo adquirisse amplitu<strong>de</strong><br />
verda<strong>de</strong>iramente nacional, seja por me haver <strong>de</strong>dicado a fundo na campanha<br />
eleitoral <strong>de</strong> Jânio Quadros, seja por haver mantido meu governo na esteira dos<br />
i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong>sse movimento” (PLANO DE AÇÃO, 1961, p. 8).<br />
O discurso acima evi<strong>de</strong>ncia o nível <strong>de</strong> comprometimento do governador<br />
com a eleição fe<strong>de</strong>ral, o que lhe custaria, após a renúncia <strong>de</strong> Jânio em 25 <strong>de</strong> agosto<br />
<strong>de</strong> 1961, outro tipo pronunciamento, em tom grave, para comentar a crise política<br />
aberta pelo renunciante: “Os acontecimentos <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong>vem ser havidos como<br />
simples episódio <strong>de</strong> um processo em evolução e já irreversível, como conquista que<br />
representam. Aos políticos e aos governantes cumpre acompanhá-lo, ou perecer.”<br />
(PLANO DE AÇÃO, 1962, p. 6). O processo irreversível <strong>de</strong> que fala Carvalho<br />
Pinto referia-se ao crescente avanço da mobilização social a partir <strong>de</strong> 1961.<br />
Ao fi nal do seu mandato, por conta do crescimento do movimento<br />
sindical e também da alta infl acionária, Carvalho Pinto contaria quase l.000<br />
greves <strong>de</strong> diferentes categorias <strong>de</strong> trabalhadores por melhores salários. Assim,<br />
o tom otimista com o qual o governador <strong>de</strong>fi nia São Paulo como a unida<strong>de</strong><br />
propulsora da economia do país em 1959 e 1960 seria substituído, em março <strong>de</strong><br />
1962, por uma avaliação que o consi<strong>de</strong>rava como um dos estados mais sensíveis<br />
aos resultados da instabilida<strong>de</strong> econômica que atravessava o país:<br />
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