Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
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O FARMER CONTRA O JECA<br />
<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo que a nossa revolução burguesa <strong>de</strong>u-se mais com a<br />
sobreposição e convivência <strong>de</strong> novas e antigas estruturas que com transformações<br />
radicais. Nesse processo, teria ocorrido uma ausência <strong>de</strong> hegemonia da nossa<br />
burguesia industrial que se articulava com a oligarquia agro-exportadora formando<br />
aquilo que Gramsci (1978) chamara <strong>de</strong> bloco no po<strong>de</strong>r. Ainda que abalado pela<br />
queda da bolsa <strong>de</strong> Nova Iorque em 1929, o setor agro-exportador era fornecedor<br />
<strong>de</strong> divisas cambiais e a burguesia industrial nascente, política e economicamente<br />
frágil, não abriu mão <strong>de</strong> um acordo como observa Abdias Villar <strong>de</strong> Carvalho:<br />
[...] a burguesia industrial apoiou-se muito mais em medidas fi scais, empréstimos<br />
governamentais, na exploração intensiva da capacida<strong>de</strong> manufatureira do que<br />
numa revolução industrial que transformasse radicalmente os empecilhos<br />
estruturais à industrialização. (CARVALHO, 1978, s.p.).<br />
Ainda no mesmo texto, Villar <strong>de</strong> Carvalho sugere, assim como<br />
Sonia Draibe (1985), que o Estado <strong>de</strong>sempenhou papel fundamental no<br />
engendramento <strong>de</strong>ssa industrialização ao garantir-se relativa autonomia e solapar<br />
as bases da economia liberal clássica, planejando e intervindo nos mercados.<br />
Para Sônia Draibe, o próprio Estado tornou-se produtor e, portanto, empresário,<br />
imiscuindo-se profundamente no processo <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> capitais. Do ponto<br />
<strong>de</strong> vista social e político, observa, “regulou as relações sociais, absorveu no<br />
interior <strong>de</strong> suas estruturas os interesses sociais e se transformou numa arena<br />
<strong>de</strong> confl itos, todos eles ‘politizados’, mediados e arbitrados pelos seus agentes”<br />
(DRAIBE, 1985, p. 20). Com um Estado forte, baseado na heterogeneida<strong>de</strong> e<br />
fragmentação dos setores sociais dominantes, a industrialização tornou-se um<br />
projeto para toda a socieda<strong>de</strong>. É evi<strong>de</strong>nte que esse processo se pautou, também,<br />
por contradições e interesses. O setor agro-exportador que em 1930 per<strong>de</strong>ra o<br />
controle da direção do Estado – o Executivo – não per<strong>de</strong>ria suas bases políticas,<br />
principalmente locais, garantidas no Legislativo que durante três décadas rejeitou<br />
todos os projetos <strong>de</strong> reforma agrária e mesmo a extensão da legislação trabalhista<br />
para o campo. É signifi cativo que em meados dos anos 50, quando Kubitscheck<br />
manifestou-se favorável à extensão da legislação trabalhista aos trabalhadores<br />
rurais, um dos seus partidos <strong>de</strong> apoio, o PSD, ameaçou fazer uma veemente<br />
oposição ao governo. Como afi rma Aspásia Camargo (1981), a reforma agrária<br />
constituiu o nó górdio da “entente cordiale” do bloco agrário-industrial até 1964.<br />
Como observaria ainda Aspásia Camargo (1981), concordando<br />
com Abdias V. <strong>de</strong> Carvalho (1978), já nos fi nais da década <strong>de</strong> 1950 o “bloco”<br />
apresentava princípios <strong>de</strong> cisão em virtu<strong>de</strong> do crescimento da reivindicação em<br />
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