Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
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C ÉLIA TOLENTINO<br />
O jornal O Estado <strong>de</strong> São Paulo, gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensor da proposta paulista,<br />
aponta para a Companhia <strong>de</strong> Revenda e Colonização - CRC - <strong>de</strong> Pernambuco<br />
com <strong>de</strong>sconfi ança quando publica um artigo sugerindo que esta fosse o primeiro<br />
indício <strong>de</strong> concessão ao movimento <strong>de</strong> “agitação no campo”. Como mostra a<br />
pesquisadora Éli<strong>de</strong> Rugai Bastos (1984) no seu livro As Ligas Camponesas, no<br />
editorial <strong>de</strong> O Estado <strong>de</strong> São Paulo o projeto do governo <strong>de</strong> Pernambuco é tratado<br />
sob o título <strong>de</strong> “Demagogia e Extremismo”, e os temos são: “absurda iniciativa do<br />
governo Cid Sampaio” e “ilícito golpe no princípio da proprieda<strong>de</strong>”. O editorial<br />
alerta ainda para o perigo do crescimento das reivindicações e das mobilizações,<br />
já que a “violência camponesa” havia encontrado eco no governo daquele estado<br />
(BASTOS, 1984, p. 85). São Paulo, portador da legitimida<strong>de</strong> do estado rico e<br />
industrializado, dono <strong>de</strong> 31% da renda nacional, on<strong>de</strong>, segundo seus dirigentes,<br />
a subversão não ganharia lugar, convencia a socieda<strong>de</strong> brasileira que a medida<br />
agrária <strong>de</strong> Cid Sampaio, contemporânea à sua, era resultado da pressão popular<br />
e esta, por sua vez, resultada do atraso e da pobreza. Quando o periódico se<br />
refere à Revisão Agrária, os termos dirigidos à proposta governamental são bem<br />
distintos daquele usado para falar do projeto pernambucano:<br />
Para aqueles que vivem em São Paulo e acompanham o que aqui ocorre e<br />
o cuidado com que a atual administração vem equacionando os problemas<br />
econômicos políticos e sociais do Estado, é confortador verifi car que os<br />
estudos aqui realizados vão servindo <strong>de</strong> padrão para as outras unida<strong>de</strong>s da<br />
Fe<strong>de</strong>ração que se veem às voltas com os mesmos problemas. É o caso agora<br />
da Lei da Revisão Agrária [...]. (O ESTADO DE SÃO PAULO, 24 jan. 1961).<br />
Nos primeiros meses <strong>de</strong> 1961, a Revisão Agrária passaria a ser<br />
anunciada nos gran<strong>de</strong>s jornais como mo<strong>de</strong>lar porque racional, cautelosa,<br />
a<strong>de</strong>quada às necessida<strong>de</strong>s regionais e proposta por um governo moralmente<br />
calçado para antecipar-se aos movimentos sociais. Nesta linha <strong>de</strong> raciocínio, os<br />
<strong>de</strong>mais projetos <strong>de</strong> intervenção na questão agrária e fundiária, como os realizados<br />
no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, pelo governador Leonel Brizola, e no Rio <strong>de</strong> Janeiro, por<br />
Roberto Silveira, apareceriam em <strong>de</strong>svantagem por terem sido <strong>de</strong>mandados por<br />
movimentos sociais no campo, isto é, seria uma forma <strong>de</strong> concessão à mobilização<br />
dos trabalhadores.