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Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...

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O FARMER CONTRA O JECA<br />

junto ao Governo Paulista. Assim como explica a <strong>de</strong>sarticulação da lei em nível<br />

fe<strong>de</strong>ral dando mostras do que era a questão agrária no movediço terreno político<br />

e social que antece<strong>de</strong>u ao trágico <strong>de</strong>sfecho <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1964.<br />

É importante dizer ainda que nosso objeto <strong>de</strong> estudo situa-se em<br />

um momento um pouco anterior à gran<strong>de</strong> mobilização por reforma agrária<br />

perpetrada pelos movimentos sociais que, como observa Leonil<strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros<br />

(1983), obrigaria todas as forças políticas, <strong>de</strong> qualquer matiz, a pronunciarem-se<br />

sobre a questão. Antece<strong>de</strong> ainda ao período que Roberto Schwarz <strong>de</strong>fi niu como<br />

sendo o <strong>de</strong> um “Brasil inteligente” 3 , quando o tema das reformas <strong>de</strong> base era<br />

pauta cotidiana dos jornais, das <strong>de</strong>mandas coletivas e das entida<strong>de</strong>s mobilizadas.<br />

Fundamentada nas teorias <strong>de</strong> Gramsci, nossa pesquisa soma-se às<br />

<strong>de</strong>mais que analisam a questão da reforma agrária nos fi nais dos anos 50 e a<br />

sua relação com o bloco-agrário industrial, isto é, com a correlação <strong>de</strong> forças<br />

vigente nesse momento em que a indústria já apresentava traços hegemônicos na<br />

economia e o Estado atuava francamente na consolidação das bases da produção<br />

tecnológica mo<strong>de</strong>rna. Tomamos, pois, uma intervenção localizada e <strong>de</strong> iniciativa<br />

<strong>de</strong> um governo executivo estadual <strong>de</strong> modo a observar, a partir <strong>de</strong>la, a relação<br />

<strong>de</strong>sse grupo dirigente com as <strong>de</strong>mais classes e frações <strong>de</strong> classe e seu projeto<br />

<strong>de</strong> direção política para essa unida<strong>de</strong> da fe<strong>de</strong>ração que <strong>de</strong>sempenhava um papel<br />

bastante relevante: para a linguagem da época, São Paulo era o condutor do “trem<br />

da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>”. Essa especifi cida<strong>de</strong> também foi um dos fatores fundamentais<br />

para explicar como e porque, apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>fi nida pelos próprios i<strong>de</strong>alizadores<br />

como proposta <strong>de</strong> colonização e regulamentação do uso da terra, o projeto <strong>de</strong><br />

reorganização fundiária <strong>de</strong> Carvalho Pinto não passasse incólume e a Revisão<br />

Agrária adquirisse status <strong>de</strong> reforma agrária.<br />

Neste livro, mantivemos os capítulos tal como os propusemos na<br />

dissertação <strong>de</strong> mestrado que lhe dá origem. No primeiro, discutimos a Revisão<br />

enquanto projeto <strong>de</strong> intervenção político-econômica e como a medida foi<br />

entendida nas especifi cida<strong>de</strong>s da conjuntura em que foi lançada, particularmente,<br />

em diálogo com o <strong>de</strong>senvolvimentismo que <strong>de</strong>fi niu o período Kubitschek.<br />

Observaremos ainda como o grupo dirigente paulista articulou apoios e como se<br />

<strong>de</strong>u a formação do Governo Carvalho Pinto, administração discreta e “espremida”<br />

entre os ruidosos governos <strong>de</strong> Jânio Quadros e Adhemar <strong>de</strong> Barros. A proposta<br />

3 Schwarz escreveria em 1969 um artigo chamado “Cultura e política” on<strong>de</strong> observava que o Brasil <strong>de</strong><br />

1964 era incrivelmente inteligente e nas ruas se discutia reformas <strong>de</strong> base, reforma agrária, universitária<br />

e todos os temas da política não passavam <strong>de</strong>sapercebidos pelos operários, estudantes e camponeses. Ver<br />

SCHWARZ, 1978.<br />

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