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Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...

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C ÉLIA TOLENTINO<br />

A classe proprietária rural paulista estava representada por associações<br />

setoriais em três gran<strong>de</strong>s entida<strong>de</strong>s: a cafeicultura congregava-se na SRB (Socieda<strong>de</strong><br />

Rural Brasileira), juntamente com outros setores da gran<strong>de</strong> produção (pecuária<br />

<strong>de</strong> leite, pecuária <strong>de</strong> corte, algodão e outros); a pequena e média produção estava<br />

representada pela FARESP (Fe<strong>de</strong>ração das Associações Rurais do Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo); e a UCESP (União das Cooperativas do Estado <strong>de</strong> São Paulo) reunia o<br />

setor mais mo<strong>de</strong>rno da agricultura paulista, as cooperativas <strong>de</strong> açúcar, leite, citros,<br />

avicultura, suinocultura e outras. Das três entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe, a UCESP seria a<br />

única a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o projeto do Executivo paulista. A FARESP e a SRB, embora<br />

tendo histórias distintas no cenário político paulista, mantiveram-se unidas em suas<br />

posições com relação à Revisão Agrária. É interessante observar, entretanto, que<br />

ambas as entida<strong>de</strong>s manifestaram-se tanto ofi cial quanto extra ofi cialmente, e nem<br />

sempre as <strong>de</strong>clarações foram coinci<strong>de</strong>ntes. Como veremos, o discurso ofi cial foi<br />

aquele constante dos documentos enviados ao governo (as sugestões <strong>de</strong> emendas,<br />

os substitutivos) e o que chamamos <strong>de</strong> extra-ofi cial foi aquele dirigido à imprensa.<br />

À primeira vista parece haver um <strong>de</strong>scompasso entre o que dizem os conselhos<br />

diretores <strong>de</strong>stas entida<strong>de</strong>s e os <strong>de</strong>mais membros, sendo o discurso <strong>de</strong>stes últimos<br />

mais aguerridos que os sujeitos que falam ofi cialmente em nome das instituições.<br />

No entanto, não há porque <strong>de</strong>scartar a hipótese <strong>de</strong> que os pronunciamentos para a<br />

imprensa fossem en<strong>de</strong>reçados à Assembleia Legislativa, com objetivo <strong>de</strong> pressionar<br />

os <strong>de</strong>putados a votarem contra a proposta <strong>de</strong> Revisão Agrária. No entanto, a classe<br />

proprietária acabaria dividida quando da votação fi nal do Projeto 154/60, não<br />

po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma posição unívoca por causa da resistência da UCESP que se<br />

<strong>de</strong>clarava favorável ao projeto do Executivo.<br />

Em 1960, as classes produtoras rurais em São Paulo não constituíam<br />

um bloco unívoco e seus antagonismos internos se mostrariam com mais clareza<br />

nesse confronto com o Estado. Como aponta a pesquisa <strong>de</strong> Leonil<strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros<br />

(1983), a reivindicação da burguesia paulista assumia a forma <strong>de</strong> uma luta entre<br />

campo e cida<strong>de</strong>, que se sobrepunha e subordinava a luta <strong>de</strong> classes no campo.<br />

Através dos <strong>de</strong>putados representantes do setor na Assembleia Legislativa, o<br />

discurso que explicita bem essa questão é o <strong>de</strong> que essa classe, que havia até<br />

então carregado o Brasil às costas, seria, agora, relegada ao abandono e morte<br />

pela “usura do fi sco”, numa referência ao aumento do imposto territorial rural.<br />

A propósito do aumento do ITR como forma <strong>de</strong> coibir a terra mal cultivada<br />

e subdividir as proprieda<strong>de</strong>s, a contestação por parte das classes proprietárias<br />

rurais já tinha vindo a público três meses antes do lançamento do Projeto 154/60,<br />

quando o secretário da agricultura o anuncia na semana da Reforma Agrária,

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