Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
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O FARMER CONTRA O JECA<br />
efi ciente, capitalizada e produtora <strong>de</strong> alimentos para as cida<strong>de</strong>s industriais. Um<br />
projeto <strong>de</strong> substituição tanto da fazenda improdutiva – com a monocultura do<br />
café em franca <strong>de</strong>cadência – quanto do Jeca pelo farmer, pequeno proprietário<br />
rural em estilo norte americano, como já sonhara Monteiro Lobato na década<br />
<strong>de</strong> 20. Na sua historinha didática e divulgadora das normas <strong>de</strong> higiene, além<br />
<strong>de</strong> um conhecido “tônico fortifi cante”, o caipira Jeca Tatuzinho se curava do<br />
impaludismo e também do atraso: mo<strong>de</strong>rnizava-se, mecanizava a sua proprieda<strong>de</strong><br />
e tornava-se relevante na economia <strong>de</strong> mercado. O caipira i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> Lobato parecia<br />
ser a meta do governo <strong>de</strong> São Paulo, a unida<strong>de</strong> da fe<strong>de</strong>ração que se queria como<br />
a locomotiva da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> a puxar os vagões do atraso, tal como se dizia<br />
naqueles anos. São Paulo manteria a sua vocação <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>irante <strong>de</strong>sbravador,<br />
antecipar-se-ia aos movimentos <strong>de</strong> luta e daria exemplo ao país.<br />
Naquela conjuntura, a repercussão positiva foi imediata e maior do que<br />
a esperada pelos proponentes. E a contestação veio na mesma medida, dando<br />
ainda mais projeção ao tímido projeto paulista que passou a ser um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
reforma agrária muito mais pela legitimação dos contestadores do que pelo seu<br />
próprio alcance. Deste modo, para nossa análise foi importante observar tanto o<br />
que o Governo <strong>de</strong> Carvalho Pinto queria com sua proposta quanto a repercussão<br />
favorável e contrária à ela. Nos <strong>de</strong>bruçamos sobre os <strong>de</strong>bates legislativos durante<br />
a tramitação do projeto e estes mostraram o quão complexa e limítrofe era a<br />
questão da proprieda<strong>de</strong> rural naqueles anos 60. Questão que esteve na or<strong>de</strong>m<br />
do dia quando do Golpe <strong>de</strong> 1964, que <strong>de</strong>mandou, nestas cinco décadas que<br />
nos separam do projeto paulista, a luta incansável, a vida e a morte <strong>de</strong> muitos<br />
trabalhadores que sonharam e sonham com a reforma agrária ainda hoje.<br />
Promulgada pela Lei Estadual 5.994 em 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1960, a<br />
proposta <strong>de</strong> Revisão Agrária Paulista teve, sobretudo, uma vida muito curta.<br />
Prevendo a cobrança do Imposto Territorial Rural com base no tamanho e valor<br />
venal das proprieda<strong>de</strong>s agrícolas, com sobretaxa às terras incultas e isenção do<br />
pequeno proprietário que na terra habitasse, <strong>de</strong>cretava que o total do imposto<br />
arrecadado <strong>de</strong>veria ser revertido em assentamentos <strong>de</strong> trabalhadores rurais sem<br />
terra que residissem no Estado <strong>de</strong> São Paulo. No entanto, quatro meses <strong>de</strong>pois<br />
da sua difícil aprovação na Assembleia Legislativa do Estado, em abril <strong>de</strong> 1961,<br />
esta lei foi inviabilizada por um <strong>de</strong>creto fe<strong>de</strong>ral que transferia a arrecadação do<br />
imposto territorial para os municípios, retirando-a da competência do governo<br />
estadual. Deste modo, o parco saldo fi nal da proposta <strong>de</strong> “reorganização<br />
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