Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
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C ÉLIA TOLENTINO<br />
a fi xação do homem à terra e impe<strong>de</strong> especulações imobiliárias” (BOLETIM<br />
DA REVISÃO, 1960, p. 39). O episódio do veto da UCESP que impediu a<br />
manifestação da CONCLAP po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um forte indicador <strong>de</strong> que<br />
esse setor tinha claro que esta intervenção do Estado garantia os seus interesses<br />
<strong>de</strong> classe como co-dirigentes do processo mo<strong>de</strong>rnizador.<br />
Nossa análise conclui que em, pelo menos, dois aspectos, o grupo<br />
dirigente <strong>de</strong> São Paulo assumia as funções da classe economicamente dominante,<br />
ainda que sem o seu consenso, e propunha uma forma conveniente <strong>de</strong> intervir<br />
na questão fundiária daquela unida<strong>de</strong> da fe<strong>de</strong>ração. De um lado, pensava em<br />
contribuir para a sua mo<strong>de</strong>rnização e, supostamente, superar o entrave que a<br />
agricultura representaria à indústria e, por outro lado, oferecia uma solução<br />
alternativa às reivindicações dos trabalhadores rurais e da esquerda.<br />
Em sua entrevista, José Gomes da Silva nos diria que a acusação feita<br />
em plenário <strong>de</strong> que a Revisão Agrária tinha seduzido a população urbana não<br />
era <strong>de</strong> todo infundada. As classes médias urbanas, segundo José Gomes, viam<br />
na proposta governamental uma possibilida<strong>de</strong> real <strong>de</strong> aumentar, e baratear, a<br />
produção <strong>de</strong> alimentos e afastar o perigo do “avanço comunista”, aspecto<br />
bastante reforçado pelo discurso da Igreja Católica. Essa mesma classe média já<br />
havia representado papel relevante na circunstância da eleição <strong>de</strong> Carvalho Pinto,<br />
em 1958, quando fora atraída pelo seu discurso moralizante, fato que se repetiria,<br />
analogamente, na eleição <strong>de</strong> Jânio Quadros, em 1960, como indica a análise <strong>de</strong><br />
Francisco Weffort (1978) em sua pesquisa publicada em O populismo na política<br />
brasileira. Aquele governo paulista tinha em vista, <strong>de</strong>claradamente, o reforço <strong>de</strong>sta<br />
classe média, conservadora em política, mas a<strong>de</strong>pta da mo<strong>de</strong>rnização econômica,<br />
inclusive, propondo a ampliação da sua correspon<strong>de</strong>nte no meio rural enquanto<br />
produtora <strong>de</strong> alimentos, consumidora da indústria doméstica e fornecedora <strong>de</strong><br />
“esteio para o regime”, para usar os próprios termos <strong>de</strong> Carvalho Pinto.<br />
Este caráter da proposta <strong>de</strong> Revisão Agrária não passaria <strong>de</strong>spercebido<br />
ao Governo Castello Branco quando, já <strong>de</strong>pois do Golpe Militar, convocaria a<br />
equipe <strong>de</strong> Carvalho Pinto para oferecer subsídios para a elaboração do Estatuto<br />
da Terra. José Gomes da Silva, que teve participação relevante na formulação do<br />
projeto <strong>de</strong> Revisão Agrária, principalmente com relação à sua fundamentação<br />
técnica e teórica, utilizada quando da apresentação do substitutivo do governo<br />
à Assembleia Legislativa, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1960, seria um dos convocados.<br />
Segundo seu relato, a convocação feita por Roberto Campos não fora dirigida<br />
a ele, especifi camente, mas a um grupo <strong>de</strong> pessoas da Secretaria da Agricultura