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Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...

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72<br />

C ÉLIA TOLENTINO<br />

baseava-se no limite <strong>de</strong> 50 hectares para efeito <strong>de</strong> isenção fi scal. O problema da<br />

fertilida<strong>de</strong> ou infertilida<strong>de</strong> da terra, assim como a sua localização, viria à tona<br />

quando o tamanho da proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>vesse <strong>de</strong>fi nir o que se caracterizava ou não<br />

como latifúndio.<br />

A Assembleia Legislativa tornava-se, assim, o fórum on<strong>de</strong> mais<br />

insistentemente seria discutido o caráter da Revisão Agrária enquanto reforma<br />

ou não reforma agrária, mostrando que esta <strong>de</strong>fi nição variava <strong>de</strong> acordo com os<br />

interesses em jogo. Igualmente se fez a apresentação <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> propostas<br />

<strong>de</strong> emendas com o claro intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar a atenção sobre o aspecto central<br />

da proposta <strong>de</strong> lei. Entre as mais elucidativas <strong>de</strong>sse fato, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar a<br />

sugestão <strong>de</strong> um <strong>de</strong>putado do PSP propondo a <strong>de</strong>sapropriação e nacionalização<br />

das indústrias estrangeiras e, outra, em forma <strong>de</strong> substitutivo, apresentada por<br />

um representante do PTN, sugerindo a criação <strong>de</strong> “Fazendas Societaristas”,<br />

seguindo o mo<strong>de</strong>lo soviético. É interessante notar que a atribuição ao projeto <strong>de</strong><br />

lei <strong>de</strong> maiores po<strong>de</strong>res do que aqueles que pretendia ter acontece, num primeiro<br />

momento do <strong>de</strong>bate, como tática da oposição para discorrer sobre a medida e<br />

obstruir a tribuna. Os mesmos <strong>de</strong>batedores que, em princípio, trataram-na como<br />

tímida e incompleta a tratariam, nos meses seguintes, como ameaça aos interesses<br />

mais antagônicos – dos latifúndios aos movimentos sociais.<br />

A reação dos setores proprietários não tardaria a articular sua <strong>de</strong>fesa<br />

no âmbito legislativo. Da Câmara <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte chegaria à mesa da<br />

Assembleia um requerimento no qual os vereadores sugeriam a formação <strong>de</strong> um<br />

Bloco Ruralista Municipalista que, a exemplo do existente no Congresso Nacional,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>sse os “interesses da classe”. 13 No entanto, isso não aconteceria, tendo os<br />

<strong>de</strong>putados citados como possíveis componentes, votado a favor da Revisão. O<br />

que é interessante observar <strong>de</strong> tal documento é que ele aponta para a apreensão<br />

dos setores proprietários rurais com relação ao apoio <strong>de</strong> alguns setores urbanos à<br />

proposta do Executivo. O requerimento solicitava que a discussão se <strong>de</strong>sse junto<br />

às “classes interessadas”:<br />

Que o <strong>de</strong>bate seja amplo, mas em ambiente técnico, ouvidas as associações <strong>de</strong><br />

classe que se achem ligadas ao problema e não restrito ao cenário <strong>de</strong> leigos sobre<br />

o assunto, como se processou em São Paulo, entre os estudantes e sindicatos<br />

<strong>de</strong> trabalhadores, a fi m <strong>de</strong> que as <strong>de</strong>fi ciências do nosso sistema agropecuário<br />

sejam corrigidas e se evite, assim, atear a fogueira do sub<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

(ANAIS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, maio 1960, p. 163).<br />

13 O Bloco Ruralista no Congresso era presidido por Miguel Leuzzi, <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral pelo PSP paulista.<br />

Citado por STOLCKE, Verena. Cafeicultura; homens, mulheres e capital (1850-1980). São Paulo:<br />

Brasiliense, 1986. p. 151.

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