Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
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O FARMER CONTRA O JECA<br />
economia” (DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO, 3 abr. 1960, p. 8-9). Isto é,<br />
a revisão agrária <strong>de</strong>veria constituir-se em alternativa a uma possível “agitação<br />
social”, tal como as já existentes no campo nor<strong>de</strong>stino, ou então, no “grave”<br />
exemplo <strong>de</strong> Cuba, sempre reclamado tanto pelos <strong>de</strong>fensores quanto <strong>de</strong>tratores<br />
do projeto paulista e, além disso, <strong>de</strong>veria alimentar o processo <strong>de</strong>senvolvimentista<br />
contribuindo para a mo<strong>de</strong>rnização da agricultura e, consequentemente, para o<br />
progresso do país e a sua equiparação às “nações civilizadas”:<br />
Preocupação dominante na organização <strong>de</strong> todos os países civilizados é a<br />
estrutura agrária, objeto, em todos eles <strong>de</strong> medidas legislativas que ajustandose<br />
às características econômicas, sociais, técnicas e políticas <strong>de</strong> cada uma, visa<br />
proporcionar ao homem do campo condições <strong>de</strong> vida cada vez mais elevadas que fortaleçam<br />
seu po<strong>de</strong>r aquisitivo, ao mesmo tempo que, fi xando-o à terra, objetiva também a distribuição<br />
mais equitativa do solo e o aproveitamento <strong>de</strong>ste segundo normas racionais, técnicas e<br />
economicamente consi<strong>de</strong>radas. (DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO, 3 abr.<br />
1960, p. 8-9, grifos nossos).<br />
Assim que o projeto entra em pauta na Assembleia Legislativa, o <strong>de</strong>putado<br />
situacionista Antônio Mastrocola, lí<strong>de</strong>r da UDN, ocupa a tribuna para apresentálo<br />
como um ato <strong>de</strong> coragem do governador. Porém, maior ainda do Secretário da<br />
Agricultura <strong>de</strong> São Paulo, homem do seu partido e mentor da proposta. Seguindo<br />
a esteira do <strong>de</strong>putado u<strong>de</strong>nista, todos os <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>putados, a partir <strong>de</strong> então,<br />
passam a tratar a proposta da Revisão Agrária como obra <strong>de</strong> Coutinho Nogueira,<br />
a quem dirigem críticas contun<strong>de</strong>ntes, extensas, por consequência, à UDN. Com a<br />
paternida<strong>de</strong> atribuída ao Secretário, poupa-se a imagem do governador. Fernando<br />
Mauro, membro do PDC, assim como Carvalho Pinto, dá a tônica dos discursos<br />
em plenário: “Para Vossa Excelência e para a UDN que é um partido reacionário,<br />
isso é uma reforma agrária. Entretanto, <strong>de</strong>ntro da Democracia Cristã, isso não é<br />
reforma agrária” (DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO, 4 abr. 1960, p. 9).<br />
Já no primeiro mês <strong>de</strong> tramitação, o projeto receberia, aproximadamente,<br />
cem propostas <strong>de</strong> emendas dos mais diversos teores que, em sua maioria,<br />
objetivavam alterar os aspectos mais polêmicos, particularmente no tocante<br />
à majoração do imposto territorial rural. I<strong>de</strong>ntifi cado como medida fi scal e<br />
fi scalizante, a majoração do ITR acabava sendo comparada ao chamado confi sco<br />
cambial que pesava sobre a comercialização do café, recebendo as propostas <strong>de</strong><br />
emenda mais radicais.<br />
Outro aspecto que geraria polêmica entre a maioria parlamentar seria<br />
a <strong>de</strong>fi nição do tamanho da pequena proprieda<strong>de</strong> que, segundo o projeto <strong>de</strong> lei,<br />
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