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Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...

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C ÉLIA TOLENTINO<br />

do campesinato e da nação, porque era sinônimo <strong>de</strong> uma classe dominante rural<br />

que ainda não chegara a se constituir em burguesia agrária. Segundo entendiam<br />

os seus militantes, o latifundiário emperraria a industrialização para manter os<br />

resquícios <strong>de</strong> privilégios feudais, interpretação que passava pelo crivo da leitura<br />

política do PCB. Entretanto, o PCB e as Ligas divergiam quanto aos caminhos<br />

para a revolução socialista. Para o Partidão era necessário <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a consolidação<br />

da revolução burguesa, para as Ligas a luta <strong>de</strong>veria ser pela revolução socialista.<br />

Mesmo assim, convergiam no diagnóstico <strong>de</strong> que o latifúndio era o ponto nodal<br />

a ser <strong>de</strong>sarticulado.<br />

Segundo Carvalho Pinto, o projeto <strong>de</strong> Revisão Agrária teria sido<br />

ajustado à realida<strong>de</strong> paulista on<strong>de</strong> se verifi cava a “inexistência praticamente, do<br />

latifúndio” que, como já apontamos anteriormente, era um argumento político<br />

já que o latifúndio por extensão era uma realida<strong>de</strong> também em São Paulo,<br />

como mostra, concretamente, o próprio Boletim da Revisão Agrária. Tratavase<br />

<strong>de</strong>, naquele momento, contrapor o Estado <strong>de</strong> São Paulo ao restante do país,<br />

<strong>de</strong> forma que o latifúndio politicamente colocado pelas Ligas Camponesas do<br />

Pernambuco não fosse atribuído ao estado mais mo<strong>de</strong>rno da fe<strong>de</strong>ração. É certo,<br />

como mostra a pesquisa <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Souza Martins (1981) que, assim como a<br />

<strong>de</strong>signação camponês aglutinava várias categorias <strong>de</strong> trabalhadores rurais, o<br />

conceito <strong>de</strong> latifúndio e latifundiário era incorporado pelo discurso político das<br />

várias forças sociais. Neste sentido, também a elite política se apropriava <strong>de</strong>le<br />

para negar a existência do gran<strong>de</strong> proprietário “atrasado”, mantenedor <strong>de</strong> formas<br />

pré capitalistas <strong>de</strong> produção, no Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Quanto ao movimento sociais, é possível dizer que a mobilização<br />

da classe trabalhadora rural em São Paulo, ainda que relevante, como vimos,<br />

não fora a razão principal do projeto <strong>de</strong> política agrária pensada pelo governo<br />

paulista. Mas, sem dúvida, uma parte importante dos apoios obtidos levava em<br />

consi<strong>de</strong>ração os sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontentamento do hipoteticamente pacato homem<br />

rural e a força crescente dos seus mediadores em todo território brasileiro. Como<br />

bem observa Coutinho Nogueira, a reforma agrária era óbvia, a questão era<br />

<strong>de</strong>fi nir qual reforma se pretendia. Mais <strong>de</strong> uma vez, esse discurso foi levado<br />

à situação limite on<strong>de</strong> o contraponto à Revisão Agrária era a reforma agrária<br />

radical, ban<strong>de</strong>ira que o PCB carregava nos primeiros anos da década <strong>de</strong> 1950.<br />

Também o apoio entusiástico da Igreja Católica, particularmente da ala mais<br />

conservadora, aponta nesta direção (os bispos da ala progressista atentam para<br />

o caráter mo<strong>de</strong>rnizador do projeto paulista). Seguiria o mesmo caminho o

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