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Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...

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O FARMER CONTRA O JECA<br />

em comum. Ainda em outubro, quando da primeira votação do Projeto <strong>de</strong> Lei<br />

154/60, o <strong>de</strong>putado Luciano Lepera atentaria para sua difi culda<strong>de</strong> em votar a<br />

medida, já que era em parte favorável a ela, ainda que não concordasse com seu<br />

todo. Em novembro, esse parlamentar apresentaria à Assembleia Legislativa um<br />

substitutivo ao Projeto 154/60 que seria publicado sob a manchete “O Projeto<br />

<strong>de</strong> Carvalho Pinto nada tem <strong>de</strong> Reforma Agrária” no jornal do seu partido, Novos<br />

Rumos. Neste, po<strong>de</strong>mos ver propostas <strong>de</strong> alterações pontuais em relação às taxas <strong>de</strong><br />

impostos no sentido <strong>de</strong> torná-las mais rigorosas para as proprieda<strong>de</strong>s acima <strong>de</strong> 500<br />

hectares, passando a majoração <strong>de</strong> 4% para 6%, assim como <strong>de</strong>sapropriações em<br />

casos <strong>de</strong> má conservação e baixo aproveitamento da proprieda<strong>de</strong>, acrescentando<br />

a não a permissão da remessa <strong>de</strong> lucros ou divi<strong>de</strong>ndos ao exterior por parte<br />

<strong>de</strong> proprietários estrangeiros, e exigindo a isenção do pagamento da primeira<br />

prestação do lote no ato da aquisição. Enfi m, um substitutivo que conservava os<br />

traços mais gerais da medida governamental. Segundo se lê nos Novos Rumos, o<br />

<strong>de</strong>putado consi<strong>de</strong>rava a proposta <strong>de</strong> Revisão Agrária “<strong>de</strong>magógica, <strong>de</strong>stinada a<br />

infl uenciar as massas populares e sem nenhuma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com os interesses reais<br />

dos camponeses”. Mais adiante, no entanto, atribuiria à medida uma importância<br />

histórica: a <strong>de</strong> levar o Legislativo a discuti-la, colocando a reforma agrária na<br />

or<strong>de</strong>m do dia (NOVOS RUMOS, 11 a 17 <strong>de</strong> nov. 1960, p. 04).<br />

Em contrapartida, a fala do Governador mostra que o anticomunismo<br />

ferrenho <strong>de</strong> parte da elite política brasileira, mesmo aquela consi<strong>de</strong>rada mais<br />

mo<strong>de</strong>rna, como é o caso <strong>de</strong> Carvalho Pinto, não permitia que esta percebesse<br />

o que podia haver <strong>de</strong> coinci<strong>de</strong>nte entre suas propostas e aquelas do PCB, já<br />

que todo movimento <strong>de</strong> esquerda era tratado, neste período, como “farinha do<br />

mesmo saco”, para usar uma expressão caipira. Ainda que fosse uma coincidência<br />

conjuntural e com fi ns diversos, naquele momento os comunistas no PCB<br />

e a elite dirigente <strong>de</strong> São Paulo propunham a mo<strong>de</strong>rnização das relações <strong>de</strong><br />

produção e trabalho rurais e o incremento da industrialização brasileira. Ao falar<br />

das resistências à proposta à Revisão Agrária, o governador afi rmaria: “o projeto<br />

também não agrada aos reacionários nem às correntes <strong>de</strong> extrema-esquerda,<br />

uns porque resistem a toda inovação, outros porque <strong>de</strong>sejam uma reforma nos<br />

mol<strong>de</strong>s socialistas” (BOLETIM DA REVISÃO, 1960, p. 34 e 35).<br />

Naquele ano <strong>de</strong> 1960, as Ligas Camponesas <strong>de</strong> Pernambuco eram<br />

a gran<strong>de</strong> referência dos movimentos sociais no campo. Consequentemente, a<br />

interpretação dos seus militantes em relação à classe opositora era a que mais se<br />

difundia no terreno da esquerda. Para as Ligas, o latifundiário era o gran<strong>de</strong> inimigo<br />

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