Célia Aparecida Ferreira Tolentino - Faculdade de Filosofia e ...
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C ÉLIA TOLENTINO<br />
favor da reforma agrária por parte <strong>de</strong> movimentos da socieda<strong>de</strong> civil. Para a<br />
autora, um dos momentos mais signifi cativos <strong>de</strong>sta crise interna do acordo entre<br />
agrários e industriais teria sido quando, em 1958, o setor cafeicultor manifestarase<br />
abertamente contra a política cambial do governo central, organizando<br />
a chamada “Marcha da Produção”. Sem o mesmo prestígio econômico que<br />
mantivera até fi nais dos anos 1930 e com a industrialização internalizada pelo<br />
governo <strong>de</strong> Kubitschek, esse setor protestaria nas ruas e seria reprimido pelas<br />
forças do Exército Nacional.<br />
Concomitantemente, a reivindicação por reforma agrária começava a<br />
ganhar força no cenário político e, sob a mediação do Partido Comunista e <strong>de</strong><br />
parte da Igreja Católica (com uma leitura e preocupação distintas <strong>de</strong>sse primeiro),<br />
os movimentos sociais no campo, especialmente as Ligas Camponesas no<br />
Nor<strong>de</strong>ste, levantavam esta ban<strong>de</strong>ira enquanto no Congresso tramitavam projetos<br />
<strong>de</strong> lei <strong>de</strong> diversos matizes. A aliança conservadora seria inevitavelmente colocada<br />
em cheque mediante um <strong>de</strong>bate que não poupava nenhum setor e arregimentava<br />
pesadas críticas. Aliás, o questionamento do monopólio da terra e da monocultura<br />
ganhara vários contornos na história brasileira <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Lei <strong>de</strong> Terras, em<br />
1850. Mas, a partir dos anos 30, já durante o primeiro governo <strong>de</strong> Getúlio<br />
Vargas, uma nova perspectiva econômica acusava o agrarismo monopolista <strong>de</strong><br />
prejudicial ao <strong>de</strong>senvolvimento, sob a argumentação <strong>de</strong> que impedia produção<br />
<strong>de</strong> alimentos para a crescente população urbana. Essa interpretação ganharia<br />
versão acabada durante o Governo <strong>de</strong> Juscelino Kubitschek através dos teóricos<br />
<strong>de</strong>senvolvimentistas. Reunidos em torno da CEPAL, a Comissão Econômica<br />
para a América Latina formada a partir do fi m da Segunda Guerra para organizar<br />
a política econômica latino americana em tempos <strong>de</strong> Guerra Fria, estes teóricos<br />
entendiam que a industrialização e o <strong>de</strong>senvolvimento eram fundamentais para<br />
superar a condição periférica que os países da região ocupavam na economia<br />
mundial. Para tanto, <strong>de</strong>fendiam a tese <strong>de</strong> que era preciso superar os principais<br />
“entraves estruturais” e o Estado <strong>de</strong>veria intervir para isso. Seria necessário o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento “para <strong>de</strong>ntro”, com industrialização para o mercado interno,<br />
participação do Estado na economia e hostilida<strong>de</strong> ao imperialismo comercial e<br />
fi nanceiro baseado na exploração agro-exportadora. Este último item evi<strong>de</strong>ncia<br />
que a Comissão prezava o nacionalismo que, na análise <strong>de</strong> Guido Mantega em<br />
A economia política brasileira (1985), não negava <strong>de</strong> todo o capital estrangeiro,<br />
consistindo mais em um <strong>de</strong>senvolvimento nacional que nacionalista.