19.04.2013 Views

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

-É uma bela Quinta – murmurava o meu Príncipe, encanta<strong>do</strong>.<br />

-Magnífica! E bem tratada... O tio Adrião teve um feitor excelente... Não é<br />

o teu Melchior. Observa, aprende, lavra<strong>do</strong>r! Olha aquele cebolinho!<br />

P<strong>as</strong>samos pela horta, uma horta ajardinada, como sonhara o meu Príncipe,<br />

com os seus talhões debrua<strong>do</strong>s de alfazema, e madressilva enroscada nos<br />

pilares de pedra, que faziam ruazinh<strong>as</strong> fresc<strong>as</strong> toldad<strong>as</strong> de parra densa. E<br />

demos volta à capela, onde crescia aos <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s da porta uma roseira-chá,<br />

com uma rosa única, muito aberta, e uma moita de baunilha, onde Jacinto<br />

apanhou um raminho para cheirar. Depois entramos no terraço em frente da<br />

c<strong>as</strong>a, com a sua balaustrada de pedra, toda enrodilhada de j<strong>as</strong>mineiros<br />

amarelos. A porta envidraçada estava aberta e subimos pela escadaria de<br />

pedra, no imenso silêncio em que toda a Flor da Malva repousava, até a<br />

antecâmara, de altos tetos apainela<strong>do</strong>s, com longos bancos de pau, onde<br />

desmaiavam na sua velha pintura <strong>as</strong> complicad<strong>as</strong> arm<strong>as</strong> <strong>do</strong>s Cerqueir<strong>as</strong>.<br />

Empurrei a porta duma outra sala, que tinha <strong>as</strong> janel<strong>as</strong> da varanda abert<strong>as</strong>,<br />

cada uma com a gaiola dum canário.<br />

-É curioso! – exclamou Jacinto. – Parece o meu Presépio... E <strong>as</strong> minh<strong>as</strong><br />

cadeir<strong>as</strong>.<br />

E com efeito. Sobre uma cômoda antiga, com bronzes antigos, pousava um<br />

presépio, semelhante ao da livraria de Jacinto. E <strong>as</strong> cadeir<strong>as</strong> de couro lavra<strong>do</strong><br />

tinham, como <strong>as</strong> que ele descobrira no sótão, um<strong>as</strong> arm<strong>as</strong> sob um chapéu de<br />

Cardeal.<br />

-Ó senhores! – exclamei. – Não haverá um cria<strong>do</strong>?<br />

Bati <strong>as</strong> mãos, fortemente. E o mesmo <strong>do</strong>ce silêncio permaneceu, muito<br />

largo, to<strong>do</strong> luminoso e areja<strong>do</strong> pelo macio ar da Quinta, apen<strong>as</strong> corta<strong>do</strong> pelo<br />

saltitar <strong>do</strong>s canários nos poleiros d<strong>as</strong> gaiol<strong>as</strong>.<br />

-É o palácio da Bela a<strong>do</strong>rmecida no bosque! – murmurou Jacinto, qu<strong>as</strong>e<br />

indigna<strong>do</strong>. – Dá um berro!<br />

-Não, caramba! Vou lá dentro!<br />

M<strong>as</strong>, à porta, que de repente se abriu, apareceu minha prima Joaninha,<br />

corada <strong>do</strong> p<strong>as</strong>seio e <strong>do</strong> vivo ar, com um vesti<strong>do</strong> claro um pouco aberto no<br />

pescoço, que fundia mais <strong>do</strong>cemente, numa larga claridade, o esplen<strong>do</strong>r branco<br />

da sua pele, e o louro ondea<strong>do</strong> <strong>do</strong>s seus cabelos – lindamente risonha, na<br />

surpresa que alargava os seus largos, luminosos olhos negros, e trazen<strong>do</strong> ao<br />

colo uma criancinha, gorda e cor-de-rosa, apen<strong>as</strong> coberta com uma camisinha,<br />

de grandes laços azuis.<br />

E foi <strong>as</strong>sim que Jacinto, nessa tarde de Setembro, na Flor da Malva, viu<br />

aquela com quem c<strong>as</strong>ou em Maio, na capelinha de azulejos, quan<strong>do</strong> o grande pé<br />

de roseira se cobrira to<strong>do</strong> de ros<strong>as</strong>.<br />

XV<br />

136

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!