A cidade e as serras - a casa do espiritismo
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Precedi<strong>do</strong> pôr Jacinto, o Grão-duque surgiu. Era um possante homem, de<br />
barba em bico, já grisalha, um pouco calvo. Durante um momento hesitou, com<br />
um balanço lento sobre os és pequeninos, calça<strong>do</strong>s de sapatos r<strong>as</strong>os, qu<strong>as</strong>e<br />
sumi<strong>do</strong>s sob <strong>as</strong> pantalon<strong>as</strong> muito larg<strong>as</strong>. Depois, pesa<strong>do</strong> e risonho, veio apertar<br />
a mão às senhor<strong>as</strong> que mergulhavam nos velu<strong>do</strong>s e sed<strong>as</strong>, em mesur<strong>as</strong> de<br />
Corte. E imediatamente, baten<strong>do</strong> com carinhosa jovialidade no ombro de<br />
Jacinto:<br />
-E o peixe?... Prepara<strong>do</strong> pela receita que mandei, hem?<br />
Um murmúrio de Jacinto tranqüilizou S. Alteza.<br />
-Ainda bem, ainda bem! – exclamou ele, no seu vozeirão de coman<strong>do</strong>.<br />
Que eu não jantei, absolutamente não jantei! É que se está jantan<strong>do</strong><br />
deploravelmente em c<strong>as</strong>a <strong>do</strong> José. M<strong>as</strong> pôr que se vai jantar ainda ao José?<br />
Sempre que chego a Paris, pergunto: “Onde é que se janta agora?” em c<strong>as</strong>a <strong>do</strong><br />
José!... Qual! não se janta! Hoje, pôr exemplo, galinhol<strong>as</strong>... Uma peste! Não<br />
tem, não tem a noção da galinhola!<br />
Os seus olhos azula<strong>do</strong>s, dum azul sujo, rebrilhavam, alarga<strong>do</strong>s pela<br />
indignação:<br />
-Paris está perden<strong>do</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> su<strong>as</strong> superioridades. Já se não janta, em<br />
Paris!<br />
Então, em re<strong>do</strong>r, aqueles senhores concordaram, desola<strong>do</strong>s. O conde de<br />
Trèves defendeu o Bignon, onde se conservavam nobres tradições. E o diretor<br />
<strong>do</strong> Boulevard, que se empurrava to<strong>do</strong> para S. alteza, atribuía a decadência da<br />
cozinha, em França, à República, ao gosto democrático e torpe pelo barato.<br />
-No Paillard, todavia... – começou o Efraim.<br />
-No Paillard! – gritou logo o Grão-Duque. – M<strong>as</strong> os Borgonh<strong>as</strong> são tão<br />
maus! Os Borgonh<strong>as</strong> são tão maus!...<br />
Deixara pender os braços, os ombros, descoroçoa<strong>do</strong>. Depois, com o seu<br />
lento andar balança<strong>do</strong> como o dum velho piloto, atiran<strong>do</strong> um pouco para trás <strong>as</strong><br />
lapel<strong>as</strong> da c<strong>as</strong>aca, foi saudar Madame de Oriol, que toda ela faiscou, no sorriso,<br />
nos olhos, n<strong>as</strong> jói<strong>as</strong>, em cada prega d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> sed<strong>as</strong> cor de salmão. M<strong>as</strong> apen<strong>as</strong><br />
a clara e macia criatura, baten<strong>do</strong> o leque como uma <strong>as</strong>a alegre, começara a<br />
chalrar, S.Alteza reparou no aparelho de Teatrofone, pousa<strong>do</strong> sobre uma mesa<br />
entre flores, e chamou Jacinto:<br />
-Em comunicação com o Alcazar?... O Teatrofone?<br />
-Certamente, meu senhor.<br />
Excelente! Muito chique! Ele ficara com pena de não ouvir a Gilberte<br />
numa cançoneta nova, <strong>as</strong> C<strong>as</strong>quettes. Onze e meia! Era justamente a essa hora<br />
que ela cantava, no último ato da Revista Elétrica... – colou às orelh<strong>as</strong> os <strong>do</strong>is<br />
“receptores” <strong>do</strong> Teatrofone, e que<strong>do</strong>u embebi<strong>do</strong>, com uma ruga séria na testa<br />
dura. De repente num coman<strong>do</strong> forte:<br />
-É ela! Chuta! Venham ouvir!... É ela! Venham to<strong>do</strong>s! Princesa de<br />
Carman, para aqui! To<strong>do</strong>s! É ela! Chuta!...<br />
Então, como Jacinto instalara prodigamente <strong>do</strong>is Teatrofones, cada um<br />
provi<strong>do</strong> de <strong>do</strong>ze fios, <strong>as</strong> senhor<strong>as</strong>, to<strong>do</strong>s aqueles cavalheiros, se apressaram a<br />
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