19.04.2013 Views

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Não teve sarampo e não teve lombrig<strong>as</strong>. As letr<strong>as</strong>, a Tabuada, o Latim<br />

entraram pôr ele tão facilmente como o sol pôr uma vidraça. Entre os<br />

camarad<strong>as</strong>, nos pátios <strong>do</strong>s colégios, erguen<strong>do</strong> a sua espada de lata e lançan<strong>do</strong><br />

um bra<strong>do</strong> de coman<strong>do</strong>, foi logo o vence<strong>do</strong>r, o Rei que se adula, e a quem se<br />

cede a fruta d<strong>as</strong> merend<strong>as</strong>. Na idade em que se lê Balzac e Musset nunca<br />

atravessou os tormentos da sensibilidade; - nem crepúsculos quentes o<br />

retiveram na solidão duma janela, padecen<strong>do</strong> dum desejo sem forma e sem<br />

nome. To<strong>do</strong>s os seus amigos (éramos três, contan<strong>do</strong> o seu velho escudeiro<br />

preto, o Grilo) lhe conservaram sempre amizades pur<strong>as</strong> e cert<strong>as</strong> – sem que<br />

jamais a participação <strong>do</strong> seu luxo <strong>as</strong> aviv<strong>as</strong>se ou fossem desanimad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong><br />

evidênci<strong>as</strong> <strong>do</strong> seu egoísmo. Sem coração b<strong>as</strong>tante forte para conceber um amor<br />

forte, e contente com esta incapa<strong>cidade</strong> que o libertava, <strong>do</strong> amor só<br />

experimentou o mel – esse mel que o amor reserva aos que o recolhem, à<br />

maneira d<strong>as</strong> abelh<strong>as</strong>, com ligeireza, mobilidade e cantan<strong>do</strong>. Rijo, rico,<br />

indiferente ao Esta<strong>do</strong> e ao Governo <strong>do</strong> Homens, nunca lhe conhecemos outra<br />

ambição além de compreender bem <strong>as</strong> Idéi<strong>as</strong> Gerais; e a sua inteligência, nos<br />

anos alegres de escol<strong>as</strong> e controvérsi<strong>as</strong>, circulava dentro d<strong>as</strong> Filosofi<strong>as</strong> mais<br />

dens<strong>as</strong> como enguia lustrosa na água limpa dum tanque. O seu valor, genuíno,<br />

de fino quilate, nunca foi desconheci<strong>do</strong>, nem desapareci<strong>do</strong>; e toda a opinião, ou<br />

mera facécia que lanç<strong>as</strong>se, logo encontrava uma aragem de simpatia e<br />

concordância que a erguia, a mantinha embalada e rebrilhan<strong>do</strong> n<strong>as</strong> altur<strong>as</strong>. Era<br />

servi<strong>do</strong> pel<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> com <strong>do</strong>cilidade e carinho; - e não recor<strong>do</strong> que jamais lhe<br />

estal<strong>as</strong>se um botão da camisa, ou que um papel maliciosamente se escondesse<br />

<strong>do</strong>s seus olhos, ou que ante a sua viva<strong>cidade</strong> e pressa uma gaveta pérfida<br />

emperr<strong>as</strong>se. Quan<strong>do</strong> um dia, rin<strong>do</strong> com descri<strong>do</strong> riso da Fortuna e da sua roda,<br />

comprou a um sacristão espanhol um Décimo de Lotaria, logo a Fortuna, ligeira<br />

e ridente sobre a sua roda, correu num fulgor, para lhe trazer quatrocent<strong>as</strong> mil<br />

peset<strong>as</strong>. E no céu <strong>as</strong> Nuvens, pejad<strong>as</strong> e lent<strong>as</strong> se avistavam Jacinto sem<br />

guarda-chuva, retinham com reverência <strong>as</strong> su<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> até que ele p<strong>as</strong>s<strong>as</strong>se...<br />

Ah! O âmbar e o funcho da Srª.D. Angelina tinham escorraça<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu destino,<br />

bem triunfalmente e para sempre, a Sorte-Ruim! A amorável avó (que eu<br />

conheci obesa, com barba) costumava citar um soneto natalício <strong>do</strong><br />

desembarga<strong>do</strong>r Nunes Velho conten<strong>do</strong> um verso de boa lição:<br />

Sabei, senhora que esta vida é um rio....<br />

Pois um rio de Verão, manso, translúci<strong>do</strong>, harmoniosamente estendi<strong>do</strong> sobre<br />

uma areia macia e alva, pôr entre arvore<strong>do</strong>s fragrantes e ditos<strong>as</strong> aldei<strong>as</strong>, não<br />

ofereceria àquele que o descesse num barco de cedro, bem tolda<strong>do</strong> e bem<br />

almofada<strong>do</strong>, com frut<strong>as</strong> e Champanhe a refrescar em gelo, um Anjo governan<strong>do</strong><br />

ao leme, outros Anjos puxan<strong>do</strong> à sirga, mais segurança e <strong>do</strong>çura <strong>do</strong> que a Vida<br />

oferecia ao meu amigo Jacinto.<br />

Pôr isso nós lhe chamávamos “o Príncipe da Grã-Ventura”!<br />

Jacinto e eu, José Fernandes, ambos nos encontramos e acamaradamos em<br />

Paris, n<strong>as</strong> Escol<strong>as</strong> <strong>do</strong> Bairro Latino – para onde me mandara meu bom tio<br />

Afonso Fernandes Lorena de Noronha e Sande, quan<strong>do</strong> aqueles malva<strong>do</strong>s me<br />

6

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!