19.04.2013 Views

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

corria os de<strong>do</strong>s ansioso pela face: - “E os sacos, <strong>as</strong> peles, os livros, quem os<br />

transportaria <strong>do</strong> salão de Irun para o salão de Salamanca?” Eu berrava,<br />

desespera<strong>do</strong>, que os carrega<strong>do</strong>res de Medina eram os mais rápi<strong>do</strong>s, os mais<br />

destros de toda a Europa! Ele murmurava: - “Pois sim, m<strong>as</strong> em Espanha, de<br />

noite!...” A noite, longe da Cidade, sem telefone, sem luz elétrica, sem postos<br />

de polícia, parecia ao meu Príncipe povoada de surpres<strong>as</strong> e <strong>as</strong>saltos. Só<br />

acalmou depois de verificar no Observatório Astronômico, sob a garantia <strong>do</strong><br />

sábio professor Bertrand, que a noite da nossa jornada era de Lua-cheia!<br />

Enfim, na Sexta-feira, fin<strong>do</strong>u a tremenda organização daquela viagem<br />

histórica! O Sába<strong>do</strong> predestina<strong>do</strong> amanheceu com generoso sol, de afaga<strong>do</strong>ra<br />

<strong>do</strong>çura. E eu acabava de guardar na mala, embrulhad<strong>as</strong> em papel par<strong>do</strong>, <strong>as</strong><br />

fotografi<strong>as</strong> d<strong>as</strong> criaturinh<strong>as</strong> suaves que, nesses vinte e sete meses de Paris, me<br />

tinham chama<strong>do</strong> "mon petit chou! mont rat cheri!” quan<strong>do</strong> Jacinto rompeu pelo<br />

quarto, com um soberbo ramo de orquíde<strong>as</strong> na sobrec<strong>as</strong>aca, páli<strong>do</strong> e to<strong>do</strong><br />

nervoso.<br />

-Vamos ao bosque, pôr despedida?<br />

Fomos – à grande despedida! E que encanto! Até n<strong>as</strong> almofad<strong>as</strong> e mol<strong>as</strong> da<br />

vitória senti logo uma el<strong>as</strong>ti<strong>cidade</strong> mais embala<strong>do</strong>ra. Depois, pela Avenida <strong>do</strong><br />

Bosque, qu<strong>as</strong>e me pesava não ficar sempiternamente rolan<strong>do</strong>, ao trote rima<strong>do</strong><br />

d<strong>as</strong> égu<strong>as</strong> perfeit<strong>as</strong>, no rebrilho rico de metais e vernizes, sobre aquele<br />

macadame mais alisa<strong>do</strong> que mármore, entre tão bem regad<strong>as</strong> flores e relv<strong>as</strong> de<br />

tão tenta<strong>do</strong>ra frescura, cruzan<strong>do</strong> uma Humanidade fina, de elegância bem<br />

acabada, que almoçara o seu chocolate em porcelan<strong>as</strong> de Sèvres ou de Minton,<br />

saíra de entre sed<strong>as</strong> e tapetes de três mil francos, e respirava a beleza de Abril<br />

com vagar, requinte e pensamentos ligeiros! O Bosque resplandecia numa<br />

harmonia de verde, azul e ouro. Nenhuma cova ou terra solta desalisava <strong>as</strong><br />

polid<strong>as</strong> ále<strong>as</strong> que a Arte traçou e enroscou na espessura – nenhum esgalho<br />

desgrenha<strong>do</strong> desmanchava <strong>as</strong> ondulações maci<strong>as</strong> da folhagem que o Esta<strong>do</strong><br />

escova e lava. O piar da aves apen<strong>as</strong> se elevava para espalhar uma graça leve<br />

de vida alada – e mais natural parecia, entre o arvore<strong>do</strong> sociável, o ranger d<strong>as</strong><br />

sel<strong>as</strong> nov<strong>as</strong>, onde pousavam, com balanço esbelto, <strong>as</strong> amazon<strong>as</strong> espartilhad<strong>as</strong><br />

pelo grande Redfern. Em frente ao Pavilhão de Armenonville cruzamos Madame<br />

de Trèves, que nos envolveu a ambos na carícia <strong>do</strong> seu sorriso, mais aviva<strong>do</strong><br />

àquela hora pelo vermelhão ainda úmi<strong>do</strong>. Logo atrás a barba talmúdica de<br />

Efraim negrejou, fresca também da brilhantina da manhã, no alto dum fáeton<br />

tilintante. Outros amigos de Jacinto circulavam n<strong>as</strong> Acáci<strong>as</strong> – e <strong>as</strong> mãos que lhe<br />

acenavam, lent<strong>as</strong> e afáveis, calçavam luv<strong>as</strong> fresc<strong>as</strong> cor de palha, cor de pérola,<br />

cor de lilás. Todelle relampejou rente de nós sobre uma grande bicicleta.<br />

Dorman, al<strong>as</strong>tra<strong>do</strong> numa cadeira de ferro, sob um espinheiro em flor, mamava<br />

o seu imenso charuto, como perdi<strong>do</strong> na busca de rim<strong>as</strong> sensuais e nédi<strong>as</strong>.<br />

Adiante foi o Psicólogo, que nos não avistou, conversan<strong>do</strong> com um requebro<br />

melancólico para dentro dum cupé que rescendia a alcova, e a que um cocheiro<br />

obeso imprimia dignidade e decência. E rolávamos ainda, quan<strong>do</strong> o Duque de<br />

Marizac, a cavalo, ergueu a bengala, estacou a nossa vitória para perguntar a<br />

71

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!