A cidade e as serras - a casa do espiritismo
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notou a robustez e a fartura d<strong>as</strong> oliveir<strong>as</strong>... – E em breve os nossos males<br />
esqueceram ante a incomparável beleza daquela serra bendita!<br />
Com que brilho e inspiração copiosa a compusera o divino Artista que faz<br />
<strong>as</strong> serr<strong>as</strong>, e que tanto <strong>as</strong> cui<strong>do</strong>u, e tão ricamente <strong>as</strong> <strong>do</strong>tou, neste seu Portugal<br />
bem-ama<strong>do</strong>! A grandeza igualava a graça. Para os vales, poderosamente<br />
cava<strong>do</strong>s, desciam ban<strong>do</strong>s de arvore<strong>do</strong>s, tão copa<strong>do</strong>s e re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>s, dum verde tão<br />
moço, que eram como um musgo macio onde apetecia cair e rolar. Dos<br />
pen<strong>do</strong>res, sobranceiros ao carreiro fragoso, larg<strong>as</strong> ramari<strong>as</strong> estendiam o seu<br />
tol<strong>do</strong> amável, a que o esvoaçar leve <strong>do</strong>s pássaros sacudia a fragrância. Através<br />
<strong>do</strong>s muros seculares, que sustêm <strong>as</strong> terr<strong>as</strong> lia<strong>do</strong>s pel<strong>as</strong> her<strong>as</strong>, rompiam gross<strong>as</strong><br />
raízes coleantes a que mais hera se enroscava. Em to<strong>do</strong> o torrão, de cada<br />
fenda, brotavam flores silvestres. Branc<strong>as</strong> roch<strong>as</strong>, pel<strong>as</strong> encost<strong>as</strong>, al<strong>as</strong>travam a<br />
sólida nudez <strong>do</strong> seu ventre poli<strong>do</strong> pelo vento e pelo sol; outr<strong>as</strong>, vestid<strong>as</strong> de<br />
líquen e de silva<strong>do</strong>s flori<strong>do</strong>s, avançavam como pro<strong>as</strong> de galer<strong>as</strong> enfeitad<strong>as</strong>; e,<br />
de entre <strong>as</strong> que se apinhavam nos cimos, algum c<strong>as</strong>ebere que para lá galgara,<br />
to<strong>do</strong> amachuca<strong>do</strong> e torto, espreitava pelos postigos negros, sobre <strong>as</strong><br />
desgrenhad<strong>as</strong> farrip<strong>as</strong> de verdura, que o vento lhe semeara n<strong>as</strong> telh<strong>as</strong>. Pôr toda<br />
a parte a água sussurrante, a água fecundante... espertos regatinhos fugiam,<br />
rin<strong>do</strong> com os seixos, de entre <strong>as</strong> pat<strong>as</strong> da égua e <strong>do</strong> burro; grossos ribeiros<br />
açoda<strong>do</strong>s saltavam com fragor de pedra em pedra; fios direitos e luzidios como<br />
cord<strong>as</strong> de prata vibravam e faiscavam d<strong>as</strong> altur<strong>as</strong> aos barrancos; e muita fonte,<br />
posta à beira de vered<strong>as</strong>, jorrava pôr uma bica, beneficamente, à espera <strong>do</strong>s<br />
homens e <strong>do</strong>s ga<strong>do</strong>s... To<strong>do</strong> um cabeço pôr vezes era uma seara, onde um<br />
v<strong>as</strong>to carvalho ancestral, solitário, <strong>do</strong>minava como seu senhor e seu guarda. Em<br />
socalcos verdejavam laranjais rescendentes. Caminhos de lajes solt<strong>as</strong><br />
circundavam fartos pra<strong>do</strong>s com carneiros e vac<strong>as</strong> retouçan<strong>do</strong>: - ou mais<br />
estreitos, entala<strong>do</strong>s em muros, penetravam sob ramad<strong>as</strong> de parra espessa,<br />
numa penumbra de repouso e frescura. Trepávamos então alguma ruazinha de<br />
aldeia, dez ou <strong>do</strong>ze c<strong>as</strong>ebres, sumi<strong>do</strong>s entre figueir<strong>as</strong>, onde se esgaçava,<br />
fugin<strong>do</strong> <strong>do</strong> lar pela telha vã, o fumo branco e cheiroso d<strong>as</strong> pinh<strong>as</strong>. Nos cerros<br />
remotos, pôr cima da negrura pensativa <strong>do</strong>s pinheirais, branquejavam ermid<strong>as</strong>.<br />
O ar fino e puro entrava na alma, e na alma espelhava alegria e força. Um<br />
esparso tilintar de chocalhos de guizos morria pel<strong>as</strong> quebrad<strong>as</strong>...<br />
Jacinto adiante, na sua égua ruça, murmurava:<br />
-Que beleza!<br />
E eu atrás, no burro de Sancho, murmurava:<br />
-Que beleza!<br />
Frescos ramos roçavam os nossos ombros com familiaridade e carinho. Pôr<br />
trás d<strong>as</strong> sebes, carregad<strong>as</strong> de amor<strong>as</strong>, <strong>as</strong> macieir<strong>as</strong> estendid<strong>as</strong> ofereciam <strong>as</strong><br />
su<strong>as</strong> maçãs verdes, porque <strong>as</strong> não tinham madur<strong>as</strong>. To<strong>do</strong>s os vidros duma c<strong>as</strong>a<br />
velha, com a sua cruz no topo, refulgiram hospitaleiramente quan<strong>do</strong> nós<br />
p<strong>as</strong>samos. Muito tempo um melro nos seguiu, de azinheiro a olmo, <strong>as</strong>sobian<strong>do</strong><br />
os nossos louvores. Obriga<strong>do</strong>, irmão melro! Ramos de macieira, obriga<strong>do</strong>! Aqui<br />
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